quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Serra Gaúcha - Rio Grande do Sul

(Publicada em maio de 2003)

Enquanto os paulistanos desciam a serra para o litoral, resolvi subi-la, mas desta vez nada de Campos do Jordão. Segui em direção a BR 116, a temida “rodovia da morte”, e rumei para o sul do país. Quem não está acostumado com curvas, o caminho é realmente de enjoar. Porém, a iniciativa de encontrar o que há lá em cima da serra me fez encarar com muito entusiasmo os 982 quilômetros que separam a capital paulista de Caxias do Sul.

O ponto mais ao sul que havia ido, até então, era Curitiba e Ilha do Mel, no Paraná, ou seja, a cerca de 400 quilômetros daqui. E vale a pena. Principalmente depois de descobrir que a Serra Gaúcha é formada por cidades acolhedoras, que oferecem boa comida e hospitalidade de primeira.

Neste Brasil de contrastes, o Rio Grande do Sul é um dos lugares que mais carrega as heranças européias, principalmente em Gramado, Canela, Garibaldi e Bento Gonçalves. Colonizadas por alemães e italianos, as cidades da serra destacam-se por seus vinhos, salames e queijos. E ainda pode-se visitar lugares belíssimos, com construções características do início da colonização, destacando as igrejas, os sobrados coloniais e as casas em estilo enxaimel, aquela arquitetura cujo telhado é caído justamente para não reter a neve nos países europeus.

Caxias do Sul é uma das maiores cidades da região e é onde é realizada a Festa da Uva, um dos eventos que realmente mostra o desenvolvimento da cidade. As marcas da imigração, porém, não se restringem à economia, uma vez que a herança dos italianos está nos monumentos, no dialeto vêneto, nos restaurantes, na arquitetura, nas magníficas obras do pintor Aldo Locatelli, principalmente na Igreja de São Pelegrino, cujos afrescos foram pintados por ele mesmo.

Região das Hortênsias
Gramado, Canela e Nova Petrópolis são três das cidades que formam a Região das Hortênsias. Dos resquícios dos colonizadores, a gastronomia é muito forte, traço que se combina com a típica culinária gaúcha. Esta parte da Serra Gaúcha é a mais procurada pelos turistas, mas, infelizmente, no outono as flores desaparecem e todo o grande jardim perde o colorido. Mesmo assim, o passeio compensa e instiga o visitante a voltar ao local durante a primavera.

As hortênsias se difundiram, na verdade, a partir de Gramado, quando, na década de 1950, Oscar Knorr plantou uma grande quantidade dessas flores nos jardins de sua casa, hoje o Parque Knorr. Outros moradores aderiram à idéia, transformando a flor numa marca registrada da região e mais um atrativo para os turistas. As plantações se espalharam de tal forma que ultrapassaram as fronteiras do município, ganhando as estradas, até chegar às cidades mais próximas que aderiram à moda.

Os caminhos cercados por hortênsias constam entre os melhores roteiros turísticos do Brasil. Eventos importantes como o Festival de Cinema de Gramado e o Festival de Teatro de Canela atraem brasileiros e estrangeiros. Junto com o clima festivo, as cidades ainda oferecem prazeres gastronômicos, como o chocolate artesanal, as fondues, os cafés coloniais, os strudels, as massas caseiras...

Nova Petrópolis
O nome da cidade foi uma analogia à “Cidade Imperial de Petrópolis”, onde a corte passava os meses de verão. As belas paisagens naturais da colônia e sua localização logo levaram os imigrantes a se encantar pelo lugar. Com clima temperado, os visitantes podem conferir (com sorte) geadas e invernos muito frios.

Na Praça das Flores, o Labirinto Verde foi uma das atrações que a prefeitura da cidade elaborou para atrair cada vez mais visitantes. Trata-se de uma cerca viva de cipestres em forma de labirinto, cujo objetivo é alcançar o centro. A diversão, aliás, é garantida para adultos e crianças. No final, acabam se divertindo tanto os que encaram o desafio, como aqueles que apenas param para assistir às dificuldades alheias.

Na cidade também se encontra o Parque Aldeia do Imigrante, que cobra ingresso de R$ 2, onde pode ser conferido um movimento vivo da cultura alemã. Ao todo são mais de 10 hectares de área verde de espécies nativas para os visitantes apreciarem artesanato, belas malhas, saborosos quitutes e o “Biergarten” (Jardim da Cerveja).

Gramado
As flores nas janelas, os jardins, os lagos cuidadosamente planejados e a arquitetura em estilo bávaro fazem da cidade um cenário à parte no Rio Grande do Sul. Já na entrada, o Pórtico é um atrativo para as fotografias e muito conhecido como cartão-postal da cidade.

O Lago Negro é um dos pontos turísticos mais procurados. Circundado por hortênsias, azaléias, álamos e ciprestes, o lago oferece trilhas para uma agradável caminhada, além de uma infra-estrutura comercial, que proporciona maior comodidade ao visitante. Não é cobrado ingresso de entrada, mas quem quiser desfrutar de suas águas com uma volta de pedalinho são cobrados R$ 6 para duas pessoas por um período de vinte minutos.

O mundo em miniatura. Assim é o Míni-mundo, criado pela família Hoppner, em 1981, ao estilo Legoland, na Dinamarca. É possível conferir réplicas de castelos, ferrovias, moinhos, praças, estaleiros, torres, teleféricos, lagos, cascatas, casas típicas e igrejas, inclusive a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, num mundo imaginário e criativo. Na fonte dos desejos, moedas do mundo inteiro já pousaram por ali em busca de um pedido. Para entrar, o visitante precisa desembolsar R$ 6.

O Palácio dos Festivais é a sede de exibição dos filmes participantes do Festival de Gramado - Cinema Latino e Brasileiro. No período do evento, o local recebe artistas consagrados dos mais distintos lugares do mundo e lança no mercado filmes de curta, média e longa-metragem, que concorrem ao Kikito, o cobiçado troféu que representa o Deus do Bom Humor, entregue aos destaques do Festival de Gramado.

Canela
Os pontos turísticos de Canela estão entre os cartões-postais mais conhecidos do Rio Grande do Sul. São raros os turistas que passam pela Serra Gaúcha e retornam às suas cidades sem levar consigo uma fotografia ou lembrança de lugares encantadores, como a Cascata do Caracol e a Igreja de Pedra. Muitos eventos importantes também acontecem todos os anos, como o Festival Internacional de Teatro, que reúne anualmente artistas do Brasil e do exterior.

No inverno, a cidade de influência italiana, alemã e portuguesa ganha ares ainda mais europeus. As baixas temperaturas e a neve convidam os visitantes ao aconchego das lareiras de restaurantes e hotéis. A contemplação dos visitantes só é quebrada pelas altas doses de adrenalina dos esportes radicais, cada vez mais praticados nas reservas e parques do município.

É no Parque do Caracol que está localizada a Cascata do Caracol, formada pelo arroio do mesmo nome. O leito do arroio forma o desenho de um caracol e despenca, em queda livre, por um penhasco de 131 metros de altura. Para entrar, o ingresso custa R$ 8, com direito à subida ao mirante, por meio de um elevador panorâmico com vista para a cascata. Se bem que nem seria necessária a subida até lá, uma vez que do próprio parque a vista para a cachoeira é compensadora, agregada ao barulho da água e ao vento, condições que não existem no mirante, já que ele é fechado por vidros.

Assim como em toda cidade, no Parque do Caracol há muitos Plátanos, uma árvore de cor amarelada, muito comum nos Estados Unidos e símbolo do Canadá.

Uma boa opção para comer em Canela e entrar no ritmo gaúcho é o Garfo & Bombacha, uma churrascaria com shows de peões e prendas que animam os visitantes com música típica e convida todos para a Dança do Pezinho.

Para as pessoas que querem conhecer um pouco sobre como funcionavam as máquinas a vapor, o Mundo a Vapor é uma boa opção. Trata-se de um parque temático sobre as máquinas a vapor do início do século. São dezenas de miniaturas delas trabalhando em várias unidades de produção: siderurgia, trem de laminação, olaria, granja de arroz irrigada, serraria e a mais nova atração: a fábrica de papel, que leva oito minutos para fabricar tiras do produto.

Uma boa atração também em Canela é a fábrica de chocolates Caracol, onde há o maior coelho de chocolate do mundo, que chegou a fazer parte do Guinness Book de 1998. Além dos chocolates, na Semana Santa não poderia deixar de visitar a Igreja de Pedra, localizada no centro da cidade.

A Igreja de Nossa Senhora de Lourdes é um prédio relativamente recente (sua construção foi iniciada em 1953), no estilo gótico inglês muito imponente, que chama atenção pelo fato de ser inteiramente de pedra, projetada pelo arquiteto Bernardo Sartori. Toda revestida em basalto, apresenta uma torre de 65 metros de altura, com um carrilhão de 12 sinos.

Visitar a casa construída no início do século pelo desbravador Pedro Franzen é voltar ao passado. No Castelinho há velhos utensílios, móveis antigos, paredes praticamente intactas, mesmo com o passar do tempo, que mostram como a construção é resultado de uma combinação de técnica, arte e conhecimento.

A história da casa - que hoje abriga um museu e casa de chá - começou em 1913. Grandes toras de pinheiros permaneceram seis meses mergulhadas em um arroio e outros seis secando a sombra. Depois, cortadas, serviram à construção da casa, projetada em forma de um pequeno castelo, com 18 ambientes. No primeiro pavimento não foram utilizados pregos ou parafusos para a montagem da estrutura de madeira, mas somente encaixes de precisão e pinos. Hoje, os turistas que passam diariamente pela casa podem testemunhar a solidez e a harmonia da construção. Podem também provar um dos mais famosos strudels (torta de maçã) da região.

Pequena Itália
Não por acaso há quem chame de Pequena Itália a região de colonização italiana do Rio Grande do Sul. O inesgotável repertório de exageros amáveis e reverências justificadas aos encantos da Itália pode ser encontrado também nas paisagens naturais intactas da região do vinho gaúcho, que inclui Garibaldi e Bento Gonçalves. Além da paisagem, os resquícios italianos aparecem com força nas casas, na agricultura, no hábito de fazer e beber vinho, na gastronomia e no idioma.

Em Bento Gonçalves, por exemplo, a produção artesanal de vinhos e outros derivados da uva era inicialmente realizada nas próprias casas dos agricultores. Embora com clima inadequadamente úmido, a cidade é uma das maiores em produção de vinhos no Brasil, pois os colonos persistiram nessa cultura. Isso porque essa era a única tecnologia agrícola dos imigrantes italianos, que sabiam como plantar a uva, colher e, por fim, elaborar o mais saboroso vinho.

Muitas vinícolas, aliás, podem ser visitadas. A Zaragosso é passada de pai para filho desde 1914 e a venda é apenas realizada diretamente no local, ou por envio sob encomenda. Já a cooperativa Aurora exporta seus vinhos e sucos de uva para países da Europa, América e Oceania.

Em Bento Gonçalves também se pode conhecer o Vale dos Vinhedos, onde localizam-se muitas vinícolas concentradas ao longo de uma estrada de 20 quilômetros. Além de visitar os vinhedos e ver de perto como se faz um bom vinho, pode-se comprar garrafas de safras especialmente boas e vinhos raros de encontrar. As cantinas menores também vendem suco de uva, geléias e grappa (ou graspa), um destilado de uva. Durante os dias frios, os habitantes da cidade costumam pingar algumas gotas da bebida no café para manter o corpo aquecido.

Depois de visitar as cidades da serra e provar uma boa comida regada a um excelente vinho, esteja certo de voltar para casa com boas lembranças e um bom vinho na mala!

Paris - França

(Publicado em maio de 2002)

Pelas ruas de Paris
Depois de comprar um pacote por 109 libras em Londres, segui para Waterloo, a estação de onde partem os trens Euro Star. Confesso que a idéia de atravessar de trem por baixo do Canal da Mancha não era tão excitante quanto parecia. Se eu não conhecesse ninguém que tivesse feito a viagem antes, acho que teria desistido. Apenas me lembrei do percurso que costumava fazer pelo túnel Ayrton Senna, aquele que passa por baixo do Rio Pinheiros. Com a idéia de que tudo iria dar certo, embarquei.

Não sei por que diabos o meu bilhete apenas de ida estava marcando “Primeira Classe”. Achei que havia sido engano, uma vez que paguei 109 libras pela passagem de ida e volta, incluindo duas noites de hotel. (Se comprado diretamente no guichê da empresa, o bilhete standard sairia por 80 libras.) Quando dei de cara com o local que eu iria me sentar e que no cardápio não estavam os preços, caí na real: estava mesmo na primeira classe do Euro Star indo a Paris.

As poltronas deste vagão são largas e há uma mesa fixa entre uma e outra. Na mesa do lado, havia um casal de ingleses que deveria ir a Paris a negócios e não parava de falar ao celular.

Logo no início da viagem a comissária trouxe algo para beliscar e, depois, uma espécie de refeição. Às nove horas da manhã, depois de ter tomado um café reforçado, não tinha vontade de comer nada. De repente, o maquinista começou a falar. Ele falava inglês como falava francês. O que ele queria dizer, na verdade, era que, naquele momento, estávamos passando pelo Canal da Mancha. Quer saber? Foi mais empolgante do que eu pensava!

“Bonjour, madame!”
Ao desembarcar na estação Gare du Nord, andei até o hotel, que ficava a dez minutos dali. Mostrei o voucher impresso pela internet à recepcionista e tomei posse do quarto 312. Até que bem bonitinho por seu custo: 29 libras por duas noites e café da manhã. Saí em seguida e fui conferir se realmente estava em Paris.

Eu só tive a prova quando dei de cara com a Torre Eiffel. Puxa, ela era, de longe, mais bonita ao vivo do que pela televisão. Ao me aproximar da torre, porém, Paris foi perdendo o encanto e a cidade não era mais tudo aquilo que as pessoas falavam. Não sei se foi porque eu estava vindo de Londres e esta cidade se mostrou deslumbrante e muito organizada, mas, em um primeiro momento, a capital francesa me decepcionou.

O metrô de Londres é muito mais limpo e organizado do que o de Paris. O povo do lado de lá respeita os pedestres, ao contrário desses que dirigem Peugeot e Renault. Se eu não corresse para atravessar a rua, certamente iria usar o meu seguro-viagem para consertar o estrago.

Ao redor da Torre Eiffel os jardins estavam sujos, mal-cuidados, cheios de areia e caca de cachorro. Ainda em manutenção, as redes verdes de proteção em volta do monumento enfeiavam a sua bela arquitetura dourada.

Do alto de seus 276 metros (é preciso pagar 9,90 euros) é possível observar toda a cidade e, inclusive, localizar os principais pontos turísticos. No primeiro andar, a 57 metros, há um cinema que conta a história da torre. No segundo pavimento, onde está a loja de souvenir, é preciso trocar de elevador para chegar ao ponto final. Uau! O frio é bastante no alto, mas a vista compensa!

Andei até o Arco do Triunfo. Aliás, o melhor programa em Paris é caminhar. Antes de perceber uma passagem secreta, tentei atravessar a rua para admirar o Arco bem de perto. Como ele fica no centro da avenida, há carros andando em círculo, de maneira que atravessar a rua é tarefa praticamente impossível. Bem, mas para evitar acidentes, uma vez que os motoristas não param nem quando o sinal está vermelho, há uma passagem por baixo da terra que leva até o Arco. Ah!

Alô, Brasil!
Tarefa difícil mesmo é conseguir um cyber café para mandar notícias, já que eu não sabia como ligar a cobrar para o Brasil. Fui até o mercadinho mais próximo do hotel comprar um cartão telefônico que custou sete euros. Mas o vendedor não falava inglês e tudo o que eu sabia em francês até então era "Je ne sais pas parle français". Fui salva, afinal, por uma moça que fez a tradução simultânea.

Os franceses (os europeus, de maneira geral, que fazem parte da Comunidade Européia e aderiram ao Euro) ainda estavam confusos com a troca do Franco pelo Euro, por isso os preços eram sempre apresentados nas duas moedas.

Realmente haviam me dito que os franceses não falam inglês. Eles têm uma resistência enorme para com o idioma universal. Uma prova disso é a oposição a se informatizar. A Fnac de lá, por exemplo, não tem um cyber café como nós temos na Pedroso de Morais. Quando pedi informação ao vendedor, ele apenas soube me dizer que a loja de internet que existia na redondeza havia sido fechada para sempre.

Mas, ainda bem, havia um escritório de informações turísticas logo em frente, do outro lado da avenida des Champs-Elysées. Com toda a simpatia que lhe cabia, a francesa me indicou um que estava funcionando em uma loja da Toyota.

Cheguei lá e perguntei para a funcionária, que também falava inglês, como funcionava. Ela me disse que era um serviço gratuito e, por isso, poderia ficar 15 minutos on-line. Quando ela me perguntou o meu nome para me colocar na lista de espera, veio a confirmação: “Você é brasileira, não?”, indagou a moça deste jeito, em português. “Sim, Carla”, respondi olhando para o seu crachá.

Carla mora em Paris há 11 anos e afirma visitar os parentes pelo menos uma vez por ano. Foi depois desta conversa que consegui ficar meia hora na Internet. De graça.

Após este episódio, porém, só tive mais um problema com a língua. Quando fui pedir informação a uma jovem que passava pela rua, ela me disse que não sabia falar inglês direito. Em todo caso, como eu apenas queria saber onde estava a estação de metrô mais próxima, foi fácil.

Explorando os cafés
Descer os Champs-Elysées comendo Malteseurs ou um Kit Kat enquanto se admira as vitrines é um dos melhores programas. Para tomar um café, entre em qualquer cafeteria, mas aproveite para sentar na janela. Assim, além de saborear um delicioso café parisiense acompanhado por um croissant recheado de chocolate, observe o movimento da rua e também o vaivém dos elegantes parisienses.

Continue o trajeto por esta larga avenida e, ao avistar a Sephora, não hesite: entre correndo. A megaloja oferece o melhor de todas as marcas de perfume, maquiagem e produtos de beleza de maneira geral. A revista Elle inglesa, aliás, indica a Sephora para os seus leitores que queiram dar um passeio e aproveitar os bons preços dos cosméticos.

Com uma sacola em punho (não se esqueça de pedir a isenção do imposto, uma vez que os cidadãos que não moram na Comunidade Européia não precisam contribuir quando gastam mais do que 140 euros na mesma compra), vá a uma loja Häagen-Dazs e compre um sorvete por 1,98 euro.

Evite chegar desavisado à cidade que inventou o impressionismo, a alta-costura, a arrogância e o mau humor. A prova desta última característica é obtida tão logo você entra em algum café ou peça informação começando pela frase: “Do you speak english?”.

Na outra ponta dos Champs-Elysées está o Museu do Louvre. Antes de se tornar o maior museu do mundo, este era o maior palácio real da Europa. Cuidado, porque ele não abre às terças. Cada ingresso custa 7,50 euros, sendo que após às 15h o preço cai para cinco euros. Prepare-se para andar como um louco e não se esqueça de pegar um mapa para conferir as principais obras, porque, com certeza, visitar o Louvre de cabo a rabo em um único dia é tarefa impossível.

A pirâmide de vidro em frente ao museu é, hoje, sua porta de entrada. Ela faz parte dos primeiros planos para a modernização e expansão do Louvre idealizados em 1981. Feita de metal e vidro, a pirâmide permite que o visitante veja os edifícios ao redor do palácio, além de iluminar a área de recepção no subsolo.

O Louvre é a casa da Mona Lisa, obra de Leonardo da Vinci. Muito fotografada por visitantes do mundo inteiro, ela fica exposta em uma redoma e cercada por cordas.

Ao sair do Louvre, siga caminhando pelo Jardin des Tuileries e observe como as pessoas ficam “largadas” ao redor do lago observando os patos nadarem enquanto deliciam uma baguete, um crepe ou simplesmente colocam as pernas para o ar.

Logo adiante está a Place de la Concorde, a mais importante da história francesa, onde o rei Luis XV foi guilhotinado durante a revolução.

Do outro lado do Sena está o Musée d’Orsay, instalado em uma antiga estação de trem. O museu vale a visita, uma vez que ele abriga a principal coleção de arte impressionista de Paris. Claude Monet, um dos principais representantes deste movimento, possui obras maravilhosas expostas. Outro local onde podem ser encontradas suas obras é na Fundação Monet, em Giverny, cidade que serviu de inspiração e onde o artista morou antes de falecer.

Entre museus e catedrais
Além de museus, Paris possui muitas catedrais a serem visitadas. A Basílica Sacre-Coeur, por exemplo, está no alto de uma montanha. Opte pelas escadarias somente se você estiver pagando os pecados. Caso contrário, pague um euro e vá de bondinho. A riqueza de detalhes da fachada já impressiona. Sente nas escadarias e observe os músicos que fazem ponto por ali.

Já em Ile de la Cité, local onde Paris nasceu, está a Catedral de Notre-Dame, exemplo de arquitetura gótica. Ela começou a ser construída em 1163 e a obra demorou dois séculos para ser concluída. A região é, notoriamente, um dos maiores centros mundiais de tráfico de souvenir.

Na entrada da igreja há inúmeros mendigos suplicando uma ajuda para comer. E, se algum albanês lhe perguntar se você fala inglês, tome cuidado. Na verdade o cidadão estrangeiro está apenas querendo lhe entregar um papel solicitando ajuda para a compra de uma passagem de volta para a terra natal. Na primeira eu caí. Depois, virei craque em dizer que não falo inglês.

Se não fossem os perfumes e os cosméticos em geral, poderia dizer que Paris é tão cara quanto Londres, a ponto de uma garrafa d’água custar mais cara do que um cálice de vinho. Tudo bem que se trata de Evian ou Perrier.

Como caminhar é a melhor pedida da capital francesa, o melhor programa, sem dúvida, é explorar os cafés e bistrôs. Os artistas de rua em Montmarte costumam expor seus trabalhos em tela. Talvez do mesmo modo como Monet começou para ganhar uns francos e pagar o curso de pintura.

As Galeries Lafayette estão para Paris assim como a Harrods está para Londres, com uma diferença básica: os preços da galeria são mais acessíveis do que os da centenária megastore do outro lado do Canal da Mancha.

Depois de vencer toda aquela frescura, biquinho pra isso, biquinho praquilo, mulheres com ar permanentemente blasé e, ainda por cima, tantos braços por depilar, foi chegando a hora de voltar para Londres de segunda classe, cujos preços estavam no cardápio e as poltronas eram estreitas e muito apertadas. A sorte é que naquela quarta-feira o vagão estava vazio e pude me esparramar em duas.

No final das contas, Paris começou a me convencer que ainda tenho motivos para voltar. Os cafés art-nouveau, as margens e as pontes do Sena, o croissant, o vinho, as galerias de arte, a moda, o cheiro de perfume, a resistência à invasão da língua inglesa, a pirâmide de vidro do Louvre, os jardins. Au revoir!

Londres - Inglaterra

(Publicado em abril de 2002)


London, London
Meu primeiro contato com a Inglaterra foi ainda a bordo do 777 da British Airways. No café da manhã, me contentei com a overdose de croissant gelado, ao invés de encarar um monte de coisa frita que havia dentro da bandeja de alumínio entregue pela comissária cujo sotaque me fez “rebolar” para entender o que ela queria dizer. Mas o estranhamento total veio quando um passageiro se serviu de chá e logo em seguida solicitou à inglesa que adicionasse leite na mesma xícara. “Oh my god!”, exclamei. “Chá com leite?” E o português que vive em Londres e estava em férias no Brasil respondeu: “E daí? Vocês tomam café com leite”.

Ainda a bordo da aeronave, foi da minúscula janela que avistei os primeiros sinais de Londres. Enquanto o piloto esperava autorização para pousar em Heathrow, o sobrevôo foi claro para identificar a London Eye, a Tower Bridge, o Big Ben, o Buckingham Palace.

À primeira vista, Londres estava maravilhosa. As curvas do rio Tâmisa eram esculturais. Às nove horas da manhã daquela terça-feira, Londres não era Londres. Digo, o céu estava azul, ao contrário daquele cinza que costuma ser.

Já em terra firme, meu primeiro passeio tinha que ser algo que realmente me provasse que eu estava na capital inglesa. Então, me dirigi à Westminster. Quando saí da estação e dei de cara com o Big Ben, então tive a certeza que precisava. Foi a partir deste momento que Londres começou a se revelar mais do que maravilhosa: simplesmente deslumbrante!




A 135 metros de altura pude observar, calmamente, as curvas do Tâmisa, a cúpula da St Paul’s Cathedral, a casa do Parlamento ao lado do Big Ben e todo o movimento da cidade. Tudo isso por 9,50 libras. Uma vista como esta, aliás, só era conseguida do alto da St Paul’s, só que para chegar ao seu topo é preciso pagar 6 libras e subir 530 degraus.


Porém, o passeio vale a visita, porque só de lá, a 85 metros de altura, (e também da minúscula janela do avião) podemos avistar a Tower Bridge, um dos cartões-postais da cidade.

Balé da rainha
No inverno, a troca da guarda no Buckingham Palace acontece dia sim, dia não, sempre às 11h30. A cerimônia é um espetáculo! O balé, formado por cerca de 40 guardas que marcham acompanhados por uma banda, atrai multidões. Por isso, chegue cedo para conseguir um lugar.

Sair de lá e dar uma volta no parque é uma boa pedida. Aliás, Londres é salpicada de áreas verdes por todos os lados. Só nas mediações do Palácio há dois: o St James (local fácil de encontrar esquilos) e o Green Park. Se a opção for este último, aproveite para atravessá-lo, porque, na outra ponta, está o Ritz, o hotel famoso por seu chá das cinco.

Bem ao lado há um Starbucks Coffee, local ideal para saborear uma Mocha. Trata-se de uma bebida que mistura leite, café com um creme gelado no topo. Esta combinação bizarra desce como uma luva nos dias frios.

Domingo de manhã, um vento de rachar. Qual é a boa? Ora, se a opção não é ficar em casa, então o destino é o mesmo dos ingleses: Kew Gardens, um parque um pouco mais afastado do centro. Para entrar é preciso pagar 6,50 libras. Lá dentro há diversas atrações, como um Conservatório em homenagem à princesa Diana e uma estufa repleta de plantas de vários cantos do mundo.

Curtir um final de tarde com a Tower Bridge como cenário é uma das paisagens mais bonitas que vi na cidade. Timidamente, o sol se deita atrás do rio e a ponte torna-se, lentamente, colorida. Bom para namorar, ou simplesmente acreditar que momentos maravilhosos ainda existem.

Bem ao lado está a Tower of London, um dos melhores passeios da capital inglesa. Por 11,30 libras é possível visitar a torre construída pelos conquistadores normandos. Desde o século 11, ela já foi um forte, prisão e até palácio. Hoje os visitantes vão até lá para conferir as jóias da Coroa Britânica que, cá entre nós, que jóias!

Os corvos são os habitantes oficiais da Torre. A lenda remonta ao reinado de Charles II: “se os corvos deixarem o local, a monarquia pode cair”. É por este motivo que ainda é conservada uma pequena população desses pássaros.

Mind the Gap
Esta frase você vai ouvir toda vez que o trem do metrô fizer uma parada: cuidado com o vão entre o trem e a plataforma.

Andar de metrô é fácil. Um mapa na mão e um destino na cabeça é tudo o que você precisa para se locomover de um ponto a outro. E é isso aí, porque o sistema deste meio de transporte (chamado tube) é tão completo, que envolve praticamente a cidade inteira. Por este motivo, o ideal é comprar os passes diários ou semanais, o Travel Card, pois é possível entrar e sair quantas vezes quiser, tanto do ônibus quanto do metrô.

Além de se locomover como fazem os londrinos, você vai aprender algumas regras básicas. A primeira é: nunca pare na escada rolante do lado esquerdo. Há placas espalhadas ao longo de todas as escadas com os dizeres: Stand on the right. Isso porque o lado esquerdo deve ficar livre para os apressadinhos.

Outra regra é no momento de sair da estação, quando as escadas não são rolantes e os corredores, na maioria das vezes, quilométricos. Neste momento, a regra número dois é Keep Left (mantenha-se à esquerda), porque pela direita há pessoas na direção oposta (lembre-se que em Londres os motoristas dirigem do lado direito do carro e as mãos das ruas são opostas às nossas).

Regra número três: se quiser se sentir um londrino de verdade, carregue na bolsa algo para ler dentro do trem (homens e mulheres usam bolsas, seja do tipo tira-colo, seja do tipo mochila). Mesmo que pareça só disfarce, os passageiros estão sempre lendo, ora o jornal distribuído gratuitamente nas estações, ora palavras-cruzadas ou livros em geral (Harry Potter é uma verdadeira febre).

Aproveite, também, para reparar no comportamento das pessoas dentro dos vagões, onde empresários bem-sucedidos e mendigos, ingleses e estrangeiros convivem em harmonia.

Andar, andar, andar
Oxford Street é a maior rua de Londres, com dois quilômetros e meio de extensão. Lá está localizada a maioria das lojas da cidade: bom para comprar lembrancinhas para os amigos. Na mesma rua temos a Selfriges, uma loja gigante com todo o que você pode imaginar. Os preços, inclusive, são melhores do que os da famosa Harrods, que abriga em seus cinco andares as grifes mais famosas da Europa, principalmente a parte de joalheria e moda. A seção de gastronomia, então, é de babar. Mas com a libra a quase quatro reais, melhor mesmo é deixar para comer em casa.

A Regent Street, no entanto, é a responsável por atrair o glamour e os lançamentos da moda européia. Vale a pena conferir o que estará em alta na próxima estação. Descendo esta mesma rua, chega-se a Piccadilly Circus, onde está a Tower Records, uma das gigantes na venda de CDs.

Desce uma
Nove da noite é hora de ir ao pub. O que, sexta às 21h, na balada? Bom, para quem tem que estar de volta antes de virar abóbora, digo que já é tarde. Antes das 22h o pub já está no auge: cheio de gente bebendo, e muito.

No Waxy O’Conners, um pub irlandês perto da Leicester Square, peça um pint de Guiness ou de Fosters. Você não vai se arrepender, mesmo se a loira (ou a morena) não estiver estupidamente gelada, como costumamos ter por aqui, porque inglês bebe cerveja quente. Consumação mínima é coisa de mundo moderno. No Velho Mundo a cerveja é paga na hora: 2,70 libras por um pint (a medida deles, que equivale a 600 ml).

Outro bar para enlouquecer é o Walkabout. Com 27 casas espalhadas pela Inglaterra e País de Gales, o Walkabout conta com ambiente, comida, clima e atendimento tipicamente australianos. A intenção é divulgar a experiência australiana pela Europa e oferecer em seus telões o melhor do esporte.

A música ao vivo, no entanto, é o melhor da festa. “Are you ready to rock? Are you ready to roll”, pergunta o vocalista da banda, às oito da noite de domingo. Neste momento, os australianos, neozelandeses e brasileiros de plantão que lotam a unidade de Shepherds Bush vão à loucura.

Dia de feira
Sábado é dia de ir à feira. Sim, em Notting Hill a moda é vasculhar o mercado de pulgas de Portobello Road. As barraquinhas espalhadas ao longo de boa parte do bairro vendem de tudo o que é antiguidade. Aproveite para dar uma sapiada na The Travel Bookshop, a livraria que serviu de inspiração para o filme de Julia Roberts ("Um Lugar Chamado Notting Hill"). Ela está no número 13 da Blenheim Crescent, a meia quadra da Portobello Road. Os livros sobre viagens são os mais variados possíveis. Tem até um guia do Brasil. Pena que está desatualizado.

Para fazer compras, bom mesmo é em Camden Town, aos domingos. O mercado Camden Lock é cheio de barraquinhas e encontra-se de tudo, inclusive um ou outro exemplar de punk que ainda resta na Inglaterra. Se você quiser almoçar por lá, uma boa pedida são os cafés. Um sanduíche no pão ciabata com tomate, alface e frango empanado sai por cerca de 3,50 libras.

Outro mercado interessante é o Covent Garden. Trata-se de uma eclética mistura de cafés, restaurantes, lojas e entretenimento na rua. Muitos artistas começam a carreira ali, cantando e interpretando em troca de moedas e aplausos.

Fora de Londres
Depois de ter uma visão geral de Londres, de passear pelos principais pontos da cidade, como a Oxford Street de ponta a ponta, de provar um Fish’n chips (um dos principais pratos ingleses), é hora de conhecer Windsor. Chegar lá é fácil: basta comprar um ticket de trem diretamente em Waterloo (6,30 libras ida e volta). A viagem dura uma hora.

Bem perto da estação há o Castelo de Windsor, uma das residências oficiais da nobreza inglesa, desde o século 10. Foi lá, inclusive, que a rainha Elizabeth faleceu, em 30 de março, aos 101 anos.

Durante a visita, que custa 11,50 libras, é possível conhecer cada parte da residência, bem como a história daquele castelo, inclusive a de quando uma de suas dependências pegou fogo, nos anos 1990.

A cidade em si também vale a visita. Trata-se de uma vila tipicamente interiorana, que desperta a sensação de realmente estar na Inglaterra.

Hora da despedida
Uma pizza ou uma deliciosa massa no La Porchetta é tudo de bom. Neste restaurante italiano localizado em Angel come-se bem e por um preço razoável (uma pizza de margherita, por exemplo, sai por quatro libras, o mesmo que uma refeição com sanduíche, batata-frita e refrigerante no Burger King).

De lá para Greenwich. É no Greenwich Park que está o Royal Observatory Greenwich e também a linha imaginária que divide a Terra em duas partes.

Mas ainda não acabou: em Londres há musicais, como "Cats", que está em cartaz há vinte anos, palácios, castelos, museus, galerias, abadias, praças, parques, restaurantes. Programas para uma vida toda, para todas as idades e preferências.

Depois de falar muito sorry (os ingleses dizem isso para tudo, não apenas para pedir desculpas) e de encarar o cotidiano britânico dentro do vagão do metrô, quando me dei conta já estava tomando chá com leite.

Parati - Rio de Janeiro

(Publicado em fevereiro de 2001)

Entre São Paulo e Rio
Parati é uma dessas cidades que contenta todo mundo. É cidade histórica como aquelas de Minas Gerais, mas tem mar. Fica no Rio de Janeiro, mas é a primeira cidade depois de São Paulo para quem vem pela Rio-Santos. Possui ilhas ao redor com águas cristalinas e já foi refúgio de piratas e forasteiros.

Em um simples passeio pelo centro da cidade já é possível observar que há turistas vindos do mundo todo. Isso porque existem suíços e alemães donos de pousadas; cariocas que encontraram sossego e abriram restaurantes; paulistas que estavam fartos da cidade grande e descobriram que a venda de artesanatos em lojinhas pitorescas podia ser um grande negócio.

Para quem procura sombra e água fresca, a dica é pegar um barco e sair em busca de uma ilha menos movimentada. Isso porque as praias de Parati estão longe de serem monótonas. Cenário da novela global "Mulheres de Areia", exibida pela TV Globo, a praia de Tarituba é o ponto de partida para a Ilha do Pelado.

Distante uns 20 minutos do continente, a ilha tem esse nome porque possui pouca vegetação, contrastando com a vizinha Ilha do Breu, cercada por mata nativa. Além da nascente de água o ano inteiro, há um barzinho muito (bem) freqüentado. Água cristalina, infra-estrutura e longe da poluição da cidade grande. Quer mais o quê?

Areia, sol e mar
Outra dica de passeio é ir até Trindade. Antigamente procurado por forasteiros e piratas, o vilarejo fica a trinta quilômetros de Parati, no sentido de São Paulo, em uma área de proteção ambiental. Para desbravar as praias, no entanto, é preciso muita força de vontade e, principalmente, disposição.

A praia Brava, por exemplo, possui acesso por trilha e é quase deserta. Já a do Cepilho é a preferida dos surfistas devido às suas enormes ondas. Em compensação, toda a calmaria foi reservada para a encantadora praia do Cachadaço. Sua piscina natural permite a prática de mergulho livre, aquele no qual o mergulhador precisa apenas de máscara, nadadeiras e snorkel.

O acesso à praia é meio complicado, já que é feito apenas por barco ou por uma trilha bem chatinha, mas maravilhosa. Então, já que você chegou até aqui, relaxe e aproveite, pois o Cachadaço foi batizado como um dos lugares mais bonitos da região. Caso você seja adepto do naturismo, a pequena praia da Figueira é um prato cheio.

Mesmo com tantos atrativos, tente evitar a vila de Trindade aos finais de semana prolongados e também na alta temporada de verão. Isso porque muita gente vai para lá e as pousadas ficam lotadas e as ruas, entupidas.

Dentre as (boas) opções de passeio em Parati ainda não estão listadas as cachoeiras localizadas em uma área de reservas (Parque Nacional da Serra da Bocaina, Reserva Ecológica da Joatinga, Parque Estadual de Paraty-Mirim e Áreas de Proteção Ambiental de Cairuçu e da Baía de Paraty). Fica confirmado, então, que mais um grupo de pessoas pode se interessar pela cidade: os ecoturistas.

De noite na praça
Como não há muitas alternativas de passeios para se fazer à noite, a pedida é se dirigir ao Centro Histórico e se acomodar em alguma das muitas mesas de bares que circundam a praça principal. Foi em torno da Igreja Nossa Senhora dos Remédios, aliás, que a cidade nasceu.

Nos finais de semanas prolongados e no verão, a praça costuma receber rodas de capoeira e bandas no começo de carreira. Isso, porém, não chega a ser um empecilho para quem quer apenas ouvir rock, se distrair ou até mesmo arriscar a própria sorte em uma roda.

Dentre os bares há uns com música ao vivo, outros com um bom som ambiente. Embora o serviço não seja lá essas coisas, já que podemos perder muito tempo em troca de um suco ou uma porção, a loira gelada é a mais solicitada nas noites quentes de verão.

O artesanato local é bastante rico, por isso aproveite para conhecer o que aquele povo sabe fazer. Abastecido principalmente por souvenires para turistas, o comércio também possui muita coisa legal e barata.

Da época da colônia
Distante 241 Km do Rio e 330 Km de São Paulo, Parati é uma das cidades mais charmosas do Brasil. Fundado no século 17, o município localizado ao sul do Rio de Janeiro chegou a ter o segundo mais importante porto brasileiro. Devido a sua posição estratégica, era de lá que saía o metal precioso e o café que eram embarcados para a Europa.

Sua aparência colonial ainda é conservada, principalmente devido ao calçamento de pedra das ruas conhecido como pé-de-moleque. Os antigos casarões da elite colonial hoje são pousadas, lojas de artesanato, antiquários, restaurantes e bares. Para preservar o encanto colonial, as ruas do Centro Histórico são protegidas por correntes que impedem a circulação dos carros.

Seguindo as tradições coloniais, o passeio pelo Centro é feito a pé e bem lentamente por dois motivos. O primeiro é o mais óbvio: devido ao calçamento, não são possíveis passos largos se você não estiver acostumado, ou, no mínimo, não quiser torcer os tornozelos. Já o segundo motivo é mais prazeroso: à medida que se anda por aquelas ruas é como se uma viagem ao passado fosse feita. Assim, você aprende um pouco da história do nosso país e deixa o ritmo estressante das cidades grandes para trás. Faça as malas e boa aula, ou melhor, boa viagem.

Natal - Rio Grande do Norte

(Publicado em dezembro de 1999)

Natal é conhecida como a Cidade do Sol, como a Cidade dos Bugues, mas prefere ser chamada simplesmente como está registrada: Natal. Sim, porque é a única cidade do Brasil na qual se deseja Feliz Natal o ano todo. E não é para menos. Se o turista procura sossego, aqui tem. Se procura diversão, tem também. Se procura sol, é o que mais tem. Se procura brisa para aliviar o calor, aqui não falta.

Localizada na ponta direita do Brasil, onde o mapa e, principalmente, o vento fazem a curva, Natal está ao norte de Recife, sudeste de Fortaleza e a 2.947 quilômetros de São Paulo.

Diversão para todo mundo
A temperatura varia de 28 a 30 graus e o sol brilha quase 300 dias por ano. A capital do Rio Grande do Norte possui cerca de 800 mil habitantes, distribuídos numa área de 172 quilômetros quadrados, e está sendo chamada de a Cancun brasileira pelo fato de existir uma variedade muito grande de praias belíssimas pela própria natureza.

O esporte favorito dos que vão à terra do sol está ligado ao mar e, principalmente, à areia. Com dunas e alto astral espalhados por toda parte, usam-se bugues para descê-las em ritmo acelerado.

Genipabu, localizada ao norte de Natal, na outra margem do Rio Potengi, é a capital das dunas. São 20 quilômetros quadrados de areia em permanente mutação. Ali rola de tudo um pouco: passeio de bugue e estripulias que envolvem pranchas, teleféricos, água e, claro, areia.

Outra diversão natalense é o esquibunda. Trata-se de um escorregador feito em conjunto do poder deslizante da duna à aerodinâmica das nádegas, em cima de uma prancha de madeira. O esporte é mais apreciado quando há água no final do percurso, porque o passeio termina num prazeroso tchibum. Se preferir imaginar que está deslizando uma onda no mar, basta descê-la em pé, como já estão praticando os nordestinos.

Há, também, uma variação aérea do esporte. Trata-se do Aerobunda, que nada mais é que uma cadeirinha pendurada a um cabo que liga uma margem à outra das lagoas Pitangui ou Jacumã. Quando estiver deslizando e chegar no meio, a hora da diversão chegou: basta se jogar e se deliciar com um banho de água doce. Aliás, se joga quem quiser, pois quem não sabe nadar também pode curtir: o aventureiro coloca um colete salva-vidas e espera por um guia local para apanhá-lo de barco.

A gastronomia é composta por frutos do mar e carne de sol. Há restaurantes distribuídos por toda a cidade, bem como estão também um grande número de pousadas e hotéis, principalmente na Via Costeira, um dos locais mais atraentes para projetos turísticos.

Mil opções de passeios
Dentre os passeios na cidade estão o Centro de Turismo, que funciona na antiga Casa de Detenção de Natal e abriga a Galeria de Arte Antiga e Contemporânea, com lojas de artesanato. Há também a Capitania das Artes, cujo prédio, restaurado pela Secretaria de Turismo (Sectur), reúne a beleza da arquitetura neoclássica e amplos vãos livres de arquitetura moderna.

O Forte dos Reis Magos, que fica na praia do Forte, foi construído sobre os recifes e é banhado pelo rio Potengi e pelo Oceano Atlântico. Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, o Forte é o marco inicial da história da cidade. Outro patrimônio é o Teatro Alberto Maranhão, cuja construção foi iniciada em 1818 e concluída apenas em 1904. Sua arquitetura neoclássica, contudo, encontra-se totalmente restaurada.

De praia em praia
A praia de Ponta Negra, em Natal, é um dos cartões postais mais conhecidos e é também famosa pelo Morro do Careca, a atração natural da cidade. Na praia da Pipa, litoral sul do Rio Grande do Norte, é possível ver golfinhos que se reproduzem e vivem lá. Ao lado está a praia do Amor, cujo ar de mistério e beleza lhe é conferido devido ao trecho rochoso e desértico que compõem o cenário.

No litoral norte, a praia da Redinha abriga a beleza do encontro das águas do rio Potengi com o mar. Fonte de inspiração de poetas e escritores, a partir de sua margem é possível avistar o Forte dos Reis Magos.

Em Piranji do Norte, a 30 quilômetros de Natal, está o maior cajueiro do mundo. Com mais de 100 anos, o cajueiro possui 8.400 metros quadrados e sua copa é capaz de fazer sombra em um estádio de futebol e dá, anualmente, 80 mil frutos. Feliz Natal!

Um pouco de história
Natal foi fundada por Manuel de Mascarenhas Homem, capitão-mor de Pernambuco, que chegou com o objetivo de construir um forte e uma cidade para assegurar a posse de Portugal e afastar os franceses que comerciavam com os índios potiguares.

Trampolim da vitória durante os anos em que serviu como base militar aliada durante a Segunda Guerra Mundial, com a missão de controlar as comunicações com o continente africano, 50 anos atrás Natal mal constava nos mapas. Documentos mostram que, 150 anos depois de oficialmente fundada, em uma missa que aconteceu no dia de Natal (sim, é por isso), a cidade era um lugarejo com 118 casebres. Entretanto, outros documentos atestam que a Fortaleza dos Reis Magos, no estuário do Rio Potengi, começou a ser construída em janeiro de 1598. Ou seja, quase dois anos antes da descoberta oficial.

Foi a chegada dos americanos, porém, que tornou a cidade conhecida. Isso porque algum cartógrafo do Pentágono calculou que, entre todas as terras do Brasil, Natal era a que ficava mais próxima da África (três horas nos aviões de hoje) e poderia ser uma posição estratégica. Foi nessa época, portanto, que surgiu o termo forró, corruptela do inglês for all, que era como eles chamavam os bailes de arrasta-pé que os militares realizavam para se integrar à comunidade. Entretanto, os historiadores contestam, alegando que o termo vem de forrobodó. Não importa a origem, o que vale é mais um ponto de como a cidade também é conhecida: a terra do forró.

Fortaleza - Ceará

(Publicado em outubro de 1999)

Ceará para todos os gostos turísticos
Conhecer o Ceará significa ver o contraste entre a fartura e a pobreza, os males e a seca. Quem acompanha os noticiários e vê a seca que assola o sertão cearense não imagina que belas paisagens existem em todo o litoral. São quilômetros de praias a serem conhecidas e aproveitadas.

Fortaleza, assim como boa parte do estado, está voltada para o turismo. Pacotes oferecidos por empresas do ramo não faltam no mercado. Ao contrário, eles estão cada vez mais acessíveis, sobretudo no preço. Até um aeroporto internacional foi construído: mais uma entrada de turistas. Estrangeiros, portanto, há aos montes, de todos os lugares, falando diferentes idiomas e sofrendo com o calor intenso característico de todo o Nordeste. Muitos deles, inclusive, vão para ficar.

As praias da capital, contudo, não valem a pena para o banho, com exceção da do Futuro. Um pouco mais distante que as outras em relação ao centro, ela possui barracas que oferecem cadeiras e guarda-sóis aos turistas. No inverno, o vento prevalece e alivia um pouco o calor, entretanto o sol não brinca, fere.

Boemia
Não existe pôr-do-sol mais lindo como o da praia de Iracema, mais precisamente na Ponte Metálica. Lá, as pessoas costumam se reunir para presenciar o espetáculo natural que ele dá ao se colocar no mar.

A ponte também é conhecida como Ponte dos Ingleses pelo fato de terem sido eles seus construtores, com a finalidade de desembarcar a mercadoria no porto, principalmente o próprio ferro utilizado para sua construção. Depois de tanto tempo, ela virou símbolo da praia e ponto de encontro de gente bonita.

Caminhar pela avenida Beira Mar e visitar a feirinha de artesanato também é uma boa dica. Porém, o melhor é passar antes no Mercado Central, pois o preço é menor e a maioria dos produtos é igual.

Beber um chope, comer um petisco, virar boêmio. Cenário não falta. Mais que em qualquer outro lugar, a noite fortalezense é uma criança. Na praia de Iracema, as cadeiras dos bares ficam na calçada e as ondas do mar batem bem perto ao encontro da Música Popular Brasileira que é tocada ao vivo. Então, o calor libera a sensualidade e a paquera rola solta.

Não é a toa que do Ceará saíram humoristas famosos, como Renato Aragão, Tom Cavalcanti, Chico Anísio, entre outros. Toda noite, no Shopping Pizza, há um artista se apresentando e fazendo o povo rir. O transformista Ciro Santos também pode ser visto na barraca Subindo ao Céu, na praia do Futuro. Bom mesmo, porém, é Zé Modesto, personagem de João Leite que, além de humorista, é mímico.

Mergulho
Outro programa imperdível é o mergulho nas águas quentes do Ceará. Como o mar é muito agitado, deve-se tomar cuidado para não enjoar. Por isso, mesmo que você já tenha experiência em outros mares, os instrutores consideram o primeiro mergulho lá como batismo (o primeiro de todos). Mas vale a pena. A água do mar é bem azul e a vida marinha vista no fundo é o paraíso. Há espécies de vários peixes, bem como tartarugas, arraias e tubarões-lixa.

Dunas
Uma antiga vila de pescadores, a Taíba, localizada a 70 km no caminho do Maranhão, cresceu devido às explorações dos próprios fortalezenses. Nessa praia há dunas e, no final da tarde, quando o sol está mais fraco, as pessoas se encontram para apreciar o visual.

Duna, no entanto, não serve só para olhar o que se tem em volta. Segundo o novo esporte praticado pelos nordestinos, ela serve mesmo para surfar. Sim, o esporte é bem esse: surfe de areia.

O instrumento nada mais é que uma prancha especial de madeira, com dois lugares para se encaixar os pés e parafina para ela deslizar melhor. Os surfistas descem a areia como se fosse uma onda no mar. No começo, porém, as pessoas apenas arriscam descendo sentadas. Depois que criam coragem, percebem que descer em pé, além de seguro, é bom demais.

Antes da Taíba há outra praia tipicamente turística: Cumbuco. Guias alucinados oferecem passeios de bugue por cima das imensas dunas, com direito de escolher entre duas opções de divertimento: com ou sem emoção.


Viagem
Seguindo em direção a Natal, 20 km a leste de Fortaleza, encontra-se a praia Porto das Dunas, lugar em que se localiza o parque aquático Beach Park. O maior toboágua do mundo está lá, o Insano, com 41 metros de altura. A vista para o mar que se tem ao topo do brinquedo é maravilhosa.

Mais a frente, a 65 km, está Morro Branco, famoso por suas falésias e areias coloridas. O artesanato é o ganha pão das pessoas que sabem fazer maravilhas com copos, garrafas e grãos de areia por dentro. Os artesãos com mais prática gastam, em média, duas horas para decorar um copo como o de cerveja.

Andando mais 75 km encontra-se Canoa Quebrada, pertencente ao município de Aracati. Diz a lenda que a praia tem esse nome porque, enquanto um casal de argelianos em lua-de-mel passava por ali, seu barco quebrou. Por isso, também, que o símbolo da praia é justamente a bandeira desse país (uma lua e uma estrela), desenhada em pedras. O folclore crê que, os casais que por ali passam, jamais se separam.

Mais atrações
Outro passeio a partir de Canoa Quebrada é ir até Ponta Grossa. O visual é maravilhoso inclusive dentro d’água. Se por acaso você não quiser alugar um bugue e estiver de carro, basta pedir ajuda a um guia para que ele dirija o seu pela praia. Eles sobem as dunas sem atolar usando uma técnica que consiste em murchar os pneus.

A cada metro dessa estrada de areia há uma paisagem que vale fotos ou simples apreciações. Aliás, o Ceará inteiro pode ser visto com olhos deslumbrados por contrastar a diferença existente entre os outros estados do país. Todavia, ao chegarmos de volta e nos depararmos com os arranhas céus de São Paulo, percebemos que ainda dá para ser feliz em outro lugar, mesmo dentro do nosso Brasil. Sim, porque estresse é lá que se alivia.

Fernando de Noronha - Pernambuco

(Publicado em agosto de 1999)


“Fernando de Noronha é um lugar para se conhecer, desvendar, descobrir e nunca mais esquecer.” - Tadeu Lourenço de Lima, administrador geral, novembro de 1998.

Esmeralda do Atlântico

Partindo de Natal ou Recife, em um avião com capacidade para acomodar 30 passageiros, os vôos diários com destino a Fernando de Noronha são sempre diferentes. O comandantes e os comissários que o digam. Entretanto, eles fazem questão de dividir esse privilégio com os turistas, fornecendo informações durante o tempo de espera enquanto sofremos ansiosamente até avistarmos a Esmeralda do Atlântico.

O sobrevôo que o comandante resolve fazer ao se aproximar do arquipélago é uma prévia do que veremos quando chegarmos lá embaixo. A responsabilidade e o privilégio de poder contemplar a ilha mais cobiçada por amantes da natureza e do mar é tão grande, que é capaz de anular qualquer tentativa de preguiça ou cansaço. Principalmente pelo fato de se precisar andar, e andar muito, para desvendar os lugares mais escondidos. Caminhos esses que passam no meio do mato, do barro, de trilhas, de escadarias, fendas e barrancos que os bugues (principal meio de transporte na ilha) muitas vezes não alcançam.

Sim, é preciso passar pelo inferno para chegar ao paraíso ou, se preferir, é preciso agüentar a tempestade para ver o arco-íris. Porém, quando a mata dá uma brecha, a paisagem ao fundo compensa qualquer esforço. O mar de águas ora verdes ora azuis, mas sempre cristalinas, excede nossas expectativas.

Agenda cheia
Coisas para fazer é que não faltam em Noronha. Praticar o mergulho autônomo (com cilindro de ar comprimido) é uma das atrações para quem está habilitado, podendo, inclusive, observar tubarões, tartarugas, arraias, peixes coloridos, moréias, além de lagostas, polvos, corais, esponjas, algas e, se der sorte, pode ainda mergulhar em meio aos golfinhos rotadores que estão sempre por ali para descansar.

Quem não pode mergulhar a 15 ou 20 metros, pode sair bem satisfeito se contemplar o mar da superfície, porque a visibilidade pode chegar a 50 metros, dependendo da época do ano (entre julho e setembro as águas são mais transparentes). Praticando o mergulho livre ou o snorkeling (com máscara e respirador) é possível admirar os peixinhos coloridos que estão espalhados por todas as praias, assim como as arraias-manteiga, que ficam no rasinho e se camuflam no fundo de areia.

Outro passeio interessante é o de barco que, muitas vezes, já está incluso no pacote de viagem. A embarcação navega de uma ponta a outra da ilha pelo chamado Mar de Dentro, pois sua face é voltada ao continente e não venta muito. A maior parte das praias, e também as mais belas, fica desse lado. Durante o passeio é possível conhecer as ilhas secundárias que compõem o arquipélago, assim como passar pela Baía dos Golfinhos e chegar até a Ponta da Sapata, extremo oeste da ilha principal que também é o nome do arquipélago. Lá está o Portal da Ponta da Sapata, uma fenda no meio da rocha com a forma do mapa do Brasil.

Aprendendo a lição
Durante a caminhada histórica, que começa na principal vila da ilha, a dos Remédios, pode-se observar a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, único templo católico cujo padre visita duas vezes por mês para realizar casamentos, batizados e missas em geral. Observamos o Palácio São Miguel, atual sede administrativa da ilha; o Banco Real, o único, inaugurado em 1974, instalado na antiga escola de Noronha; o museu e o Forte Nossa Senhora dos Remédios. Sua base foi construída por holandeses em 1629 e foi terminado em 1736 pelos portugueses. É também a construção mais antiga da ilha. Não deixe de observar o calçamento construído pelos presos.

Chegando ao topo, após vencer a barreira de um lugar sombrio, pois existiam muitas celas e solitárias, a paisagem é deslumbrante. Do lado direito está o Porto Santo Antônio. Se a palavra “porto” é associada ao Porto de Santos, esqueça. Porto com óleo diesel nas águas, mal cheiro, mercado de peixe, prostituição está longe de ser uma referência ao porto que se tem na ilha. Só para ilustrar, é lá que os alunos dos cursos de mergulho fazem suas aulas práticas ao invés de usarem piscinas construídas pelo homem. Os peixinhos sempre dão o ar de sua graça por lá.

Mercado de peixe só se for de Tubalhau feito pelos quiosques vizinhos. Esse prato típico, mas encontrado apenas no porto, é feito com carne de tubarão da mesma forma como fazemos o bacalhau.

Do outro lado estão o Mirante e a praia do Cachorro. A praia tem esse nome porque havia uma bica natural que jorrava água permanentemente no século passado. Havia, também, uma cara de cachorro, em bronze, por onde a água corria. Esta bica desapareceu neste século e só ficou o forró mais badalado pelos ilhéus e pelos visitantes.

Ao lado da praia do Cachorro estão a do Meio e da Conceição, as mais próximas do centro e por isso as preferidas dos ilhéus. Logo já é possível ver o Morro do Pico, o ponto culminante da ilha a 323 metros de altura acima do nível do mar. Só ver, porque, no passado, alguns aventureiros subiram e escreveram seus nomes e hoje está proibido por tempo indeterminado.

Passeio de um lado
Uma forma de conhecer essas praias é fazendo o passeio chamado Ilha Tour, realizado a bordo de bugues com motoristas, que nada mais são que nativos da ilha e que conhecem os acessos mais fáceis.

Depois, já vem o Forte São Pedro de Boldró. Ele serviu como base aos americanos que ali se instalaram durante a Segunda Guerra Mundial. O nome da praia surgiu devido ao Morro do Pico que eles chamavam de Bold Rock (Pedra Cheia). A partir de uma corruptela bem brasileira, a praia ficou simplesmente Boldró. Não por acaso, também, a praia ao lado se chama Americano, lugar em que os soldados mais gostavam de ficar para repousar. Lá existia também uma noitada, o forró. Outra corruptela, porque os americanos chamavam de for all (para todos) os bailes de arrasta-pé que freqüentavam para se integrar à comunidade local (há controvérsias porque historiadores dizem que o termo vem de forrobodó).

A seguir, temos a praia do Bode, Quixaba e Cacimba do Padre, nome originado porque um padre descobriu uma fonte de água potável. Dizem que “quem bebe de sua água jamais esquece Fernando de Noronha e volta um dia”. É lá que estão os famosos morros Dois Irmãos. Famosos porque quem já viu fotos de Noronha com certeza viu uma dos Dois Irmãos. Eles estão para o arquipélago assim como o Pão de Açúcar está para o Rio de Janeiro e a Estátua da Liberdade para Nova York. Andando um pouco mais, chega-se à outra trilha e, então, a Baía dos Porcos. Piscinas naturais formam a baía proporcionando mais contemplações do fundo do mar, para ironizar seu nome de batismo. Porcos, ali? Só os turistas mal-educados que deixam seus vestígios em forma de latinhas de refrigerante e garrafas de água mineral.

A mais bela
Mais uma trilha e, finalmente, a praia do Sancho. Finalmente porque essa é a mais linda das praias de Noronha por vários motivos que você descobrirá quando pisá-la. Se a maré estiver alta, não dá para chegar nem à Cacimba do Padre beirando a água e, para chegar ao Sancho existe um outro modo bem mais difícil, que é por cima. É preciso caminhar no meio da lama, descer escadas verticais de ferro, enfrentar pingos da cachoeira, pedras e lugares estreitos que só passa o próprio corpo. Entretanto, durante toda a empreitada, dá para admirar a bela vista que se tem de lá. O mar de águas verdes é calmo, a areia é limpa e a paz é imensa. Palavras não conseguem exprimir a sensação de estar no Sancho, nem a saudade, mas como eu havia explicado, só estando lá para ver, e sentir.

A Baía dos Golfinhos não possui praia, tampouco podemos nos aproximar dela, mas é possível esperar lá do mirante que eles se aproximem. Existem cerca de 700 deles, onde estão reunidas as condições necessárias para que eles possam se reproduzir e viver sem problemas. Essa espécie só é encontrada também no Havaí, por isso que é proibido mergulhar junto com eles.

Os golfinhos rotadores (Stenella longirostris), como são conhecidos por rodopiar em volta do próprio eixo como uma forma de se comunicar com os outros do grupo, voltam ao amanhecer e ao entardecer para descansar.

Existe um passeio que começa às 5 horas da manhã, saindo da pousada, e percorremos uma trilha a pé e no escuro (o sol nasce às 6h), apenas com a ajuda de uma lanterna. Do alto podemos observar a baía, mas, justo quando fui contemplá-los, deram o cano. Mas, estando em férias, tudo é motivo para brincadeira.

Sucesso mesmo fizeram os lagartos, cujo nome científico é Mabuya maculata. Uma espécie de lagartixa maior e com coloração escura, se compararmos com aquela que estamos acostumados a ver. Simpáticos ao extremo, não fossem eles os únicos ladrões da ilha que farejam doces de longe e correm para comer em nossas mãos. Com certeza um espetáculo à parte.

Turismo
Os visitantes são constituídos por um batalhão de turistas que desembarcam diariamente num número assustador de 31 mil visitantes por ano. Contando que a população local é de 2.500 habitantes, dá para notar a disparidade que ocorre, principalmente, em alta temporada. Nessa época falta água pelo fato de o abastecimento ser a chuva. Isso quer dizer que não existem nascentes nem fontes de água potável. Por isso, a água da chuva é reservada em depósitos com capacidade 300 mil metros cúbicos e é o maior da América Latina. Após receber um tratamento, é distribuída para a população. Mesmo assim ela não chega a ser potável.

Hotel só existe um, o Esmeralda, que mais vale por sua origem pitoresca, que pelo seu serviço. Ele foi construído pelos americanos durante a Segunda Guerra. Os visitantes ficam mesmo em pousadas que são instaladas nas casas dos ilhéus geralmente com ar-condicionado, frigobar e banheiro privativo. Na hora do banho, para quem não está acostumado, a água é fria e salobra.

Não é à toa que Noronha é conhecida por ser a terra do Não. Ela possui normas e regulamentos lógicos, por exemplo: não se pode carregar de lembrança conchinhas, pedras, corais, esqueletos de peixes ou aves, pois a formação da areia depende da decomposição desses organismos marinhos. Isto quer dizer que a areia da ilha é de composição orgânica.

O fornecimento de energia elétrica é feito 24 horas por dia com ajuda de motores geradores que chegam aos consumidores a 220 V.

Não há cinemas na ilha, mas há palestras promovidas pelo Ibama todas as noites com projeções de slides e filmes que contam a história da ilha e conscientizam tanto seus moradores quando os visitantes a respeito da importância da proteção do arquipélago como um todo. Esse trabalho visa atingir principalmente as crianças, que serão os adultos de amanhã.

Outro lado
Continuando nosso passeio por Noronha, poderemos, agora, conhecer um pouco das praias localizadas no Mar de Fora, cuja face é voltada para o oceano. Lá estão praias como a do Leão, localizada no extremo sul da ilha. Ela recebeu esse nome pelo fato de a forma da ilha em frente se parecer com um leão marinho. Periodicamente, as tartarugas marinhas vão para desovar.

A praia do Sueste é o maior aquário natural e, na maré baixa, formam piscinas de baixa profundidade, ideal para observação da flora e fauna marinha. É nessa praia que está localizada a Sede do Projeto Tamar, responsável por preservar e monitorar as tartarugas da região, desde os ovos até o nascimento e crescimento dos filhotes. Atalaia também possui piscinas, mas, por ser um local onde ocorrem reproduções marinhas, não é permitido usar protetor solar nem bronzeador para não contaminar os seres marinhos.

Depois só falta conhecer o Buraco da Raquel, uma fenda na rocha que foi batizada com esse nome pelo fato de uma menina chamada Raquel, filha de alguém do alto escalão, ter problemas mentais. Ela ia a esse lugar para descansar e meditar e então acabou por batizá-lo com seu nome. Essa é uma das muitas lendas sobre o tal buraco.

Bem ao lado está o Air France. Local ocupado pelos franceses que fica bem no encontro do Mar de Dentro com o de Fora. Por isso, vá no final da tarde para contemplar o pôr-do-sol e admirar as ilhas secundárias que ficam próximas.

Com a ilha já visitada, só falta escolher a melhor para poder aproveitar o dia, ou o resto dos dias, e se deliciar com a paz e a tranqüilidade possíveis de se adquirir com a presença de uma natureza generosa e torcer para poder voltar em breve. Mas não se esqueça de se despedir quando estiver dentro do avião passando por cima da ilha novamente, mesmo que escorra uma lágrima de saudade.

A rica história de uma ilha
O navegador Américo Vespúcio, em uma das expedições descobridoras comandada pelo português Gonçalo Coelho, em 10 de agosto de 1503, protagonizou um naufrágio em uma ilha e foi considerado seu descobridor. O rei de Portugal d. Manoel fez a doação em forma de capitania hereditária para o fidalgo português chamado Fernão de Loronha, responsável financeiro pela expedição. Embora ele nunca tenha pisado lá, a ilha foi batizada com seu nome e seus descendentes reclamaram sua posse ao longo de dois séculos.

Embora Fernando de Noronha já constasse em cartas náuticas desde 1498 e ter sido ela a primeira capitania hereditária a receber o estanco (monopólio real), em 1502, a data da descoberta ficou definida quando um português bateu sua nau em uma de suas pontas.

Em 1504, a ilha mais cobiçada do Brasil ficou a mercê de aventureiros franceses, holandeses e ingleses, e cada civilização a batizava com um nome diferente. Já se chamou Quaresma, São João, São Lourenço, Delfine, Fernandez, Pavônia, Fora do Mundo, Fernão de Loronha e, por fim, Fernando de Noronha.

De mão em mão
Os franceses tomaram posse várias vezes nos séculos 16, 17 e 18 e os holandeses em meados do século 17. Os portugueses expulsaram os franceses em 1737 e ergueram mais de dez fortes, dos quais existem hoje apenas dois: São Pedro de Boldró e Vila dos Remédios. Por ser Pernambuco a capitania hereditária com maior capacidade para tomar posse, o arquipélago foi anexado a ela.

De 1726 a 1942 a ilha servia de presídio comum devido ao seu isolamento geográfico. Em 1938 Getúlio Vargas requisitou a ilha para instalação de presídio político e, em 1942, tornou-se Território Federal subordinado ao exército até 1981. Pertenceu à aeronáutica até 1986, ao EMFA até 1987 e ao Minter até 1988. De 1987 a 1988 teve seu governo próprio e, então, foi reanexado a Pernambuco por força constituinte, tornando-se Distrito Estadual do Estado de Pernambuco, dirigido por um administrador indicado pelo governador, referendado pela Assembléia Legislativa com aval da Assembléia Popular Noronhense.

Fernando de Noronha foi aberta ao turismo em 1972 e, desde 1988, o arquipélago passou a fazer parte de um Parque Nacional Marinho, de acordo com o Decreto Lei 96.693. Atualmente está sob os cuidados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que coordena a fauna e flora marinha e determina regras para que esse pedacinho do paraíso possa ser preservado.

Ao todo são cerca de 112 quilômetros quadrados de terras e águas que abrigam um importantíssimo complexo de vida marinha encontrada em raríssimos lugares do mundo. Por determinação das autoridades locais, são permitidos desembarcar 420 turistas por semana e o governo de Pernambuco cobra taxas de permanência com valores progressivos para desencorajar estadas demoradas, sendo que 50% da arrecadação é investida em recolhimento, reciclagem e envio do lixo para o continente (70% do lixo de Noronha é produzido em função de atividade turística). Os outros 50% são investidos, obrigatoriamente, em implantação e melhoria da infra-estrutura da ilha.

A população é constituída por descendentes de presos (uma ironia pelo simples fato de que Noronha possui uma taxa de criminalidade igual a zero), militares, migrantes e imigrantes. O Censo de 1998 registrou 1.700 habitantes e em 1999, 2.500. Morar lá? Só quem vai a trabalho ou casa com um nativo. É necessário possuir moradia e pedir autorização. Parece que estamos em outro país, né? Talvez, mas acredite: aquela terra é toda nossa e é só mais um pedacinho do Brasil que está sendo preservado para não acabar em destruição.

Localização e origem
O arquipélago é de origem vulcânica há mais de 10 milhões de anos e sua base está cravada a quatro mil metros da superfície, tendo 60 km de diâmetro. É formado por 21 ilhas e ilhotas, sendo seis principais: Fernando de Noronha, a maior com 26 km quadrados, Rata, do Meio, Lucena, Sela Ginete e Rasa e está localizado em alto-mar, a 360 km de Natal (1h10), 545 km de Recife (1h40) e 255 km ou 5º da linha do Equador e existe a diferença de fuso horário de uma hora a mais em relação a Brasília.

Mesmo pela distância, Noronha pertence a Pernambuco desde 1988. Não é à toa que as agências de viagens oferecem pacotes de turismo para lá, embora eles sejam um dos mais caros dentro do Brasil (não fosse a variação do dólar, sairia mais barato ir ao Caribe). Mas muitos ainda preferem gastar seus reais por aqui, ainda bem! Os pacotes são conjugados com Recife ou Natal, pelo fato de o vôo que vai para lá sair exatamente dessas duas capitais. Mas vale a pena. Aproveite para ir antes que o mundo acabe, ou pelo menos antes que o Ibama decida inibir cada vez mais os turistas de aportarem por lá. Mas não se esqueça de preservar o lugar que, mais do que nunca, é nosso!!!

Normas e regulamentos do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar- FN). É proibido:

- Caça ou pesca submarina ou portar materiais para essa atividade;
- Introduzir animais ou plantas;
- Coletar conchas, corais, pedras, animais;
- Visitar as praias do Leão e do Sancho entre janeiro e junho das 18h às 6h;
- Nadar, mergulhar e parar embarcações próximas à Baía dos Golfinhos;
- Visitar as ilhas e ilhotas;
- Acampar, pernoitar e fazer fogo;
- Visitar as áreas que não sejam de uso público do parque sem autorização;
- Parar embarcações, com exceção da utilização dos bancos de areia da praia do Sancho ou das poitas do Sueste;
- Escrever ou pichar em rochas, árvores ou placas.

O não cumprimento acarreta em multa e apreensão do equipamento.

Curitiba - Paraná

(Publicado em junho de 1999)

Um modelo de cidade
Apontada como uma das melhores cidades para se viver em todo o mundo, Curitiba é uma unanimidade entre especialistas e leigos. A qualidade de vida que a cidade oferece a seus habitantes e exibe aos visitantes é resultado de um dinâmico processo de transformação iniciado há 25 anos.

Denominada como a Cidade Sorriso em tempos passados e Capital Ecológica mais recentemente, Curitiba faz parte do rol das cidades que se adaptaram ao ritmo de crescimento populacional sem deixar de lado as estratégias de planejamento que a tornam uma metrópole organizada e ciente de sua dimensão.

Um pedacinho da Europa aqui
A capital do Paraná é uma típica cidade que não aparenta ser brasileira. Fria no inverno e quente no verão, os habitantes de Curitiba são quase todos descendentes de alemães, poloneses, italianos e ucranianos, com a pele clara, os cabelos loiros e sobrenomes difíceis. A frieza da cidade não é disfarçada apenas com grossas malhas e pesados casacões. Ela se estende, inclusive, para a personalidade dos nativos.

Em um típico bar, chamado Churrasquinho de Gato (uma ironia, porque os espetinhos de alcatra, camarão e bacalhau são deliciosos!), minha mesa estava animada, contávamos piadas, comíamos e bebericávamos cerveja sob calor atípico e céu bem estrelado. Um piá (como eles chamam os garotos) da mesa ao lado se virou para ouvir as nossas piadas e contar uma das suas. Perguntou-nos de onde éramos e confessou: “Nasci no interior de São Paulo e vim morar aqui com apenas sete anos.” Percebemos, imediatamente, que não se tratava de um típico curitibano e ele reforçou nosso pressentimento: “Jamais um curitibano se viraria e se enturmaria com tal facilidade. Eles são muito reservados.”

Uma cidade plana, razoavelmente pequena e que abriga cerca de 1,5 milhão de habitantes, é feita de muitos recantos e para todos os gostos. Acomodada no sul do Brasil, junto a Serra do Mar, Curitiba, embora não carregue grande valor histórico (não passava de uma vila sem graça que servia apenas como parada de tropeiros que utilizavam a cidade para descansar), é dona de uma história rica de colonização iniciada no século 17. Foi, então, há um século que os imigrantes desembarcaram e a tal vila começou a crescer.

Para se ter noção do recente crescimento de Curitiba, quase metade de suas atrações surgiu em menos de 10 anos. Mesmo assim, alguma coisa de interessante haveria de existir para atrair cerca de 1 milhão de turistas por ano. Aliás, existem muitas coisas.

Não dá para perder tempo
Uma das atrações é, sem dúvida, o Jardim Botânico. A estufa art noveau, rodeada por um belo jardim, é uma réplica do Palácio de Cristal que existiu em Londres. Lá, é possível admirar várias espécies de plantas, flores e animais nativos que ficam soltos pelo parque e pelo bosque de dentro.

Como existem muitos parques em toda cidade, há um que se destaca, o Tanguá. Ele possui uma cascata artificial que despenca de uma grande rocha. Mesmo que seja artificial, os curitibanos não ligam, afinal, o que importa é o visual que ela proporciona e a tranqüilidade de poder passear nos dias de folga com a família.

O edifício centenário de uma antiga estação de trem foi transformado em um shopping center chamado Estação Plaza Show. Shopping, aliás, de uma forma como não estamos acostumados a ver, porque – mesmo tendo 130 lojas – o que menos se faz lá são compras. O legal dele é curtir o som da banda que toca no palco central, o boliche, o Parque da Mônica e o cinema da Universal Studios, além do Museu Ferroviário, com uma locomotiva do início do século. Há, também, fast food, restaurantes e bares, inclusive um, o Plaza Bier, adquirido recentemente pelo atual técnico da seleção brasileira de futebol, Wanderley Luxemburgo.

A Ópera de Arame, como o próprio nome diz, não passa de um teatro feito de arame, semelhante à Ópera de Paris. Simples assim, mas que enfeita a cidade e atrai visitantes dos quatro cantos. Experimente dar uma espiada durante um espetáculo: as luzes de dentro e, principalmente as de fora, se acendem e você não sabe escolher entre a apresentação do show de dentro ou o espetáculo da iluminação de fora.

Comer, comer
No bairro de Santa Felicidade, que já foi cenário de uma novela global, dezenas de famílias italianas se instalaram e abriram cantinas com o melhor da gastronomia internacional e dos vinhos caseiros. Um dos restaurantes, inclusive, entrou para o Guiness Book, o livro dos recordes: existem quatro mil lugares para se jantar nele. Tanto fascínio pela gastronomia explica a frieza dos curitibanos: sair de casa e se trancar em um restaurante, ou apenas acender a lareira e apreciar uma fondue de queijo, chocolate ou carne. Porque um dos prazeres que os moradores da cidade sabem fazer e bem: comer, comer...

O nome do bairro surgiu porque dona Felicidade Borges, ao fazer doação de uma área de terras para o patrimônio da colônia, pediu que o local levasse o seu nome. O pedido foi respeitado e o espírito religioso motivou o acréscimo de "Santa" ao nome da doadora.

Mesmo tendo olhos apenas para o próprio umbigo, a capital paranaense não se esquece de suas origens e homenageia o povo ucraniano com a abertura do Memorial da Imigração Ucraniana. Ele foi criado, entre outros, há três anos para marcar um século da imigração desse povo. Serve, também, para mostrar as tradições ucranianas, tais como os ícones (pinturas religiosas) e as pêssankas (ovos pintados à mão), que “simbolizam uma infinidade de coisas simples e boas que uns desejam aos outros até a eternidade”.

Pioneirismo
O primeiro calçadão brasileiro (espaço exclusivo para pedestres) foi inaugurado lá, em 1972, na rua XV de Novembro, conhecida como rua das Flores, no centro da cidade. Tornou-se ponto de encontro e de lazer, no qual, aos sábados, pequenos artistas tomam conta do espaço e as pessoas comuns praticam o footing dominical.

Foi lá, também, que surgiu uma rua na qual o comércio fica aberto durante 24 horas e não fecha há sete anos. São bares, farmácias, revistaria, loja de artesanato, banco 24 horas, floricultura, praça de alimentação e mercadinho sempre à disposição da população, num espaço de arquitetura moderna e funcional. É totalmente coberta por vidro transparente e a estrutura é feita por um tubo metálico em forma de arco, numa concepção totalmente futurista. Rua essa que não passa de um corredor, com lojas dos dois lados, mesinhas espalhadas pelo meio e muita gente circulando por lá. Um tal de sobe e desce, taças de chope rolando pela madrugada e, aos sábados à noite, muita gente mau encarada.

Andando de lá para cá
Para levar os turistas, a cidade conta com um ônibus chamado Jardineira. Ele vai parando em 22 pontos turísticos da cidade e dá chance de eles descerem três vezes durante todo o percurso com apenas uma passagem.

O sistema de transporte coletivo é mais uma inovação curitibana. Lembra um pouco filmes de ficção científica. Os moradores deram apelido de estações tubo, que nada mais são que cápsulas futurísticas. Lá, o passageiro compra um bilhete (na verdade é uma moeda) e pode trocar de linha do ônibus sem precisar pagar outra passagem. A circulação pela cidade é rápida e segura, garantida por um sistema trinário de vias, com canaletas exclusivas para o transporte coletivo e pistas para os deslocamentos velozes.

O trânsito, conseqüentemente, não fica caótico, como estamos começando a presenciar em São Paulo. As pessoas, então, optam por pegar o ônibus, descer “três tubos depois”, e chegar ao local desejado sem maiores complicações.

Subindo ao pódio
Curitiba recebeu o título de capital ecológica do país com 14 parques e bosques. São mais de 50 metros quadrados de área verde por habitante (quatro vezes mais que o recomendado pela Organização das Nações Unidas). É por isso que a entidade incluiu Curitiba entre as três cidades do mundo com a melhor qualidade de vida. E ela recebeu, também, o título de cidade-modelo de nosso país não só porque a maioria de seus habitantes pertence à classe média e os produtos a serem lançados destinados a ela saem lá primeiro, mas porque, de certa forma, tudo funciona.

Como todo exemplo de cidade, em Curitiba nada se destrói, nada se derruba, tudo se recicla. As residências e as empresas possuem dois lixos: um de material orgânico e outro de material reciclável. Sendo assim, existem dois caminhões que fazem a coleta em dias alternados para retirar os lixos produzidos. Em um dia são os restos de alimentos; no outro, plástico, papel, alumínio e vidro. Para retribuir a colaboração dos moradores, o governo devolve plantando árvores, construindo parques e melhorando as escolas públicas. Tudo para uma qualidade de vida melhor. Lixo no chão ou voando de uma janela? Difícil de se ver.

Mãos à obra
Se você ainda não descobriu porque não voltaria para casa com o mesmo pensamento depois de conhecer Curitiba, é hora de fazer as malas. Ou melhor, é hora de cobrar o governo por melhorias no transporte; é hora de efetivar a reciclagem do lixo; é necessário o plantio de mais árvores e de um cuidado excessivo da cidade em que vive. Mas, como pontapé inicial, se começar pelo seu condomínio e depois se estender para o seu bairro, já está de bom tamanho.