Localizado no Pantanal, hotel oferece passeios de observação da
fauna e da flora, mas sem abrir mão do conforto
fauna e da flora, mas sem abrir mão do conforto
Confesso que, depois que resolvi visitar o Pantanal, a primeira coisa que pensei quando vi a programação foi desistir. Isso porque os passeios estavam previstos para acontecer a partir das sete horas da manhã e, para isso, seria necessário acordar às seis horas! Bom, devo assumir que, ultimamente, não tenho acordado muito cedo. Jornalistas trabalham até tarde, mesmo depois de saírem da redação. Mas arrumei a mala com roupas confortáveis, tênis, binóculo, máquina fotográfi ca, lanterna, além de uma dose extra de disposição, e parti.
O destino era Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Uma hora e meia de voo depois, com uma hora a menos no fuso horário, foi o momento de pegar a van contratada para seguir até o Refúgio Ecológico Caiman, localizado em Miranda, cidade a quase quatro horas dali.
A parte terrestre da viagem é chatinha, é verdade, inclusive porque tem um pedaço a ser percorrido em estrada de terra, mas, ao chegar ao hotel, acredite: é como o paraíso. Nesta época do ano, o Pantanal, local que recebe esse nome por estar localizado em uma região pantanosa, que alaga, é seco. Fazia dois meses que não chovia, mas a natureza é sábia: primeiro manda bastantechuva, época das cheias (de janeiro a março), para depois secar. Embora a paisagem seja bastante diferente, é uma época boa para se visitar a região, uma vez que é possível fazer todos os passeios programados na fazenda, como trilhas na mata, safári (inclusive para focagem noturna), passeio de cavalo, entre outras coisas.
Aqui desde 1985, a Estância Caiman, hoje Refúgio Ecológico Caiman (REC), possui 53 mil hectares. Mas aqui também estão a Pousada Caiman (operação de ecoturismo pioneira no Pantanal de Mato Grosso do Sul) e Programa de Conservação da Natureza, que além de parceiros com diversos projetos científicos.
O REC é formado por duas pousadas: Baiazinha e Cordilheira, a que o grupo com quem eu estava ficou. As operações são independentes e distantes, de modo que é possível nem se dar conta que há mais pessoas por ali. Da casa sede, onde funciona a loja e o escritório, até a Cordilheira, são cerca de meia hora com o ônibus adaptado oferecido aos visitantes. Isso porque ele é ideal para os passeios de observação da fauna e da flora.
O serviço é de primeira, com tudo incluso (exceto bebidas alcoólicas): café da manhã, almoço e jantar, frutas a qualquer hora do dia, além de água e refrigerante que ficam em frigobares. Por falar em comida, bom, esse é um capítulo à parte, já que a gastronomia é realmente tentadora. Além do tradicional churrasco e de comidas bem brasileiras, é possível provar, por exemplo, a sopa de piranha, uma iguaria que pode parecer estranha, mas bastante saborosa. Há ainda chipa para o café da manhã, composto também de iogurtes, frutas, pães e bolos. Uma tentação que acaba difi cultando a escolha.
A pousada, construída com tijolos e erguida sobre palafitas, está situada às margens de uma mata de cordilheira (daí o nome!). E ainda tem piscina, ar condicionado nos cinco quartos com banheiros privativos e amenities da Natura. Ah, o celular não pega por aqui, já que estamos na zona rural e não há antenas: um verdadeiro descanso da agitação! E nada de ficar vendo tevê no quarto, pois os aparelhos televisor e de DVD ficam na sala. Internet wi-fi , porém, é bem-vinda na casa toda.
Se o Pantanal é o local ideal para a criação de gado, já que está localizado em uma planície, o proprietário Roberto Klabin explica que foi pioneiro, em 1987, ao receber famílias e interpretava a natureza com guias bilíngues. “Foi uma mudança de paradigma eno modo de atuar no Pantanal. Com outras atividades, você atrai turistas. E foi nos anos 1990, com a novela Pantanal, que as pessoas descobriram o local.” Até então, a região era formada por fazendas de gado, mas desde que evoluiu para o turismo, ela foi valorizada.
Desde o ano passado, o REC passou a operar em modo de Private Villas. Funciona assim: com exceção da alta temporada, que vai de julho a setembro, o REC aluga as casas de modo privativo, ou seja, indo uma ou dez pessoas (limite da Cordilheira, por exemplo), o valor é o mesmo. É como se você pudesse ter sua própria casa no Pantanal, mas com o serviço de hotel cinco estrelas e guias especializados para montar a programação. De acordo com Klabin, foi necessária a mudança de conceito para que pudesse continuar com o negócio.
“O movimento era maravilhoso de julho a setembro, mas quando o Brasil começou a ficar caro para os estrangeiros, tive de mudar.” Isso porque há um grande fluxo de turistas principalmente ingleses, americanos e franceses. E isso pode ser claramente visto no guestbook da sala da Cordilheira. Os registros das crianças são realmente encantadores. “Em um primeiro momento foi horrível, mas este ano começou a dar resultado. Tenho uma equipe menor, multiuso e hoje ela está mais feita. Isso que dá alegria.” Klabin conta ainda que visita a fazenda mensalmente, mas não pensa em viver ali. “Sou pantaneiro de coração, não de permanência. O bom é poder vir descansar e depois voltar para a agitação de São Paulo”, completa.
Atividades
Nos quatro dias que passei no Pantanal tive uma verdadeira imersão de como a vida pantaneira funciona, assim como tive contato (mesmo que a partir do ônibus) com diversos animais. E tudo ficou mais empolgante quando percebemos a possibilidade de ver as onças que vivem por ali. Antes de sair de casa, o ritual: repelente (e muito!), protetor solar, binóculo, máquina fotográfica e canequinha para tomar água e evitar o uso de copos descartáveis que poluem o meio ambiente. A cada passeio, uma esperança. Mas no caminho de muitos passeios pudemos observar aves raras, araras azuis que andam aos pares, tuiuiús, tucanos, muitos jacarés, veados, porcos de várias espécies, famílias de capivaras, uma lista sem fim.
Fizemos a focagem noturna, de modo a observar os animais que têm hábito de caçar durante a noite e até um workshop de astronomia, quando vimos estrelas e até mesmo o planeta Saturno, com todos os seus anéis. O workshop é realizado em uma grande área, onde são colocadas confortáveis espreguiçadeiras. O visitante recebe ponchos quentinhos, uma vez que as manhãs e as noites no Pantanal são frias, podendo chegar a 10ºC, ao contrário das tardes, quando os termômetros podem atingir 30 ºC, e chocolate quente na canequinha.
Participei também de uma roda de Tereré, bebida típica da região: uma espécie de chimarrão, mas que no Pantanal é saboreado frio, em um chifre de boi. Uma delícia! Mas boas e engraçadas mesmo são as histórias do guia de campo! Para julho está programado o workshop de fotografia, no qual um fotógrafo profissional dá dicas de como obter a melhor fotografia, posição da luz, aproximação da vida selvagem, utilizando suas próprias câmeras.
No final da viagem, já tinha me acostumado a dormir cedo e a acordar juntamente com o sol e com os pássaros que vivem atrás da pousada. Triste foi não ter visto a tal onça, o que pode ser uma lenda pantaneira... ou não! Mas decidi que preciso voltar outras vezes para conferir!
Projetos ambientais
Criada em 2004, a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN), com 5,6 mil hectares, garante a proteção de diversas espécies. Com o objeti vo de desenvolver parcerias em prol da conservação do Pantanal, o REC abriga o Projeto Arara Azul e o Papagaio Verdadeiro, que visam acompanhar e monitorar a evolução destas espécies ameaçadas de extinção.
Sobre o Arara Azul, o proprietário Roberto Klabin afirma que, se o apoiasse, teria visibilidade e atrairia turistas. “Foi um modo que encontrei de ajudar e ver esse projeto crescendo.” O Projeto cuida da espécie cuja população cresceu de 1.500 indivíduos para seis mil, em 20 anos. A extinção acontece por tráfico de animais (como pôde ser visto, por exemplo, no longametragem de animação Rio); matança para transformar suas penas em artefato; de dois ovos, apenas um sobrevive; desmatamento da árvore Manduvi onde a arara faz ninho, que tem a madeira macia para ela beliscar, assim como da palmeira que oferece o fruto que elas se alimentam.
Klabin lembra que Pantanal é único bioma que está 100% intitulado familiar, ao contrário da Amazônia, cuja terra não tem dono. Ele conta que o Brasil perde sete mil quilômetros quadrados da Amazônia por ano. “Há 10 anos, perdíamos 29 mil. Estamos perdendo biodiversidade em grande velocidade e isso afeta nossa vida, pois é ação do homem.” Presidente do SOS Mata Atlântica há 20 anos, Klabin agora cria o SOS Pantanal, cuja equipe fará expedição em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para saber sobre boas práticas e divulgá-las. À frente, estão Alessandro Menezes e a coordenadora executi va Lucila Egydio. “Será uma prosa orientada, baseada no tripé da sustentabilidade, que compreende as áreas ambiental, econômica e social”, completa Lucila. Menezes afirma que o foco também é mapear dados para valorar as pessoas e até interferir nas ações políticas.
Para acompanhar a expedição, os organizadores garantem que as ações serão publicadas no site: sospantanal.org.br.
Refúgio Ecológico Caiman Estância Caiman s/nº, Pantanal, Zona Rural, MS , tel.: (11) 3706-1800,
A jornalista Tatianna Babadobulos viajou para o Mato Grosso do Sul a convite do Refúgio Ecológico Caiman
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