quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Londres - Inglaterra

(Publicado em abril de 2002)


London, London
Meu primeiro contato com a Inglaterra foi ainda a bordo do 777 da British Airways. No café da manhã, me contentei com a overdose de croissant gelado, ao invés de encarar um monte de coisa frita que havia dentro da bandeja de alumínio entregue pela comissária cujo sotaque me fez “rebolar” para entender o que ela queria dizer. Mas o estranhamento total veio quando um passageiro se serviu de chá e logo em seguida solicitou à inglesa que adicionasse leite na mesma xícara. “Oh my god!”, exclamei. “Chá com leite?” E o português que vive em Londres e estava em férias no Brasil respondeu: “E daí? Vocês tomam café com leite”.

Ainda a bordo da aeronave, foi da minúscula janela que avistei os primeiros sinais de Londres. Enquanto o piloto esperava autorização para pousar em Heathrow, o sobrevôo foi claro para identificar a London Eye, a Tower Bridge, o Big Ben, o Buckingham Palace.

À primeira vista, Londres estava maravilhosa. As curvas do rio Tâmisa eram esculturais. Às nove horas da manhã daquela terça-feira, Londres não era Londres. Digo, o céu estava azul, ao contrário daquele cinza que costuma ser.

Já em terra firme, meu primeiro passeio tinha que ser algo que realmente me provasse que eu estava na capital inglesa. Então, me dirigi à Westminster. Quando saí da estação e dei de cara com o Big Ben, então tive a certeza que precisava. Foi a partir deste momento que Londres começou a se revelar mais do que maravilhosa: simplesmente deslumbrante!




A 135 metros de altura pude observar, calmamente, as curvas do Tâmisa, a cúpula da St Paul’s Cathedral, a casa do Parlamento ao lado do Big Ben e todo o movimento da cidade. Tudo isso por 9,50 libras. Uma vista como esta, aliás, só era conseguida do alto da St Paul’s, só que para chegar ao seu topo é preciso pagar 6 libras e subir 530 degraus.


Porém, o passeio vale a visita, porque só de lá, a 85 metros de altura, (e também da minúscula janela do avião) podemos avistar a Tower Bridge, um dos cartões-postais da cidade.

Balé da rainha
No inverno, a troca da guarda no Buckingham Palace acontece dia sim, dia não, sempre às 11h30. A cerimônia é um espetáculo! O balé, formado por cerca de 40 guardas que marcham acompanhados por uma banda, atrai multidões. Por isso, chegue cedo para conseguir um lugar.

Sair de lá e dar uma volta no parque é uma boa pedida. Aliás, Londres é salpicada de áreas verdes por todos os lados. Só nas mediações do Palácio há dois: o St James (local fácil de encontrar esquilos) e o Green Park. Se a opção for este último, aproveite para atravessá-lo, porque, na outra ponta, está o Ritz, o hotel famoso por seu chá das cinco.

Bem ao lado há um Starbucks Coffee, local ideal para saborear uma Mocha. Trata-se de uma bebida que mistura leite, café com um creme gelado no topo. Esta combinação bizarra desce como uma luva nos dias frios.

Domingo de manhã, um vento de rachar. Qual é a boa? Ora, se a opção não é ficar em casa, então o destino é o mesmo dos ingleses: Kew Gardens, um parque um pouco mais afastado do centro. Para entrar é preciso pagar 6,50 libras. Lá dentro há diversas atrações, como um Conservatório em homenagem à princesa Diana e uma estufa repleta de plantas de vários cantos do mundo.

Curtir um final de tarde com a Tower Bridge como cenário é uma das paisagens mais bonitas que vi na cidade. Timidamente, o sol se deita atrás do rio e a ponte torna-se, lentamente, colorida. Bom para namorar, ou simplesmente acreditar que momentos maravilhosos ainda existem.

Bem ao lado está a Tower of London, um dos melhores passeios da capital inglesa. Por 11,30 libras é possível visitar a torre construída pelos conquistadores normandos. Desde o século 11, ela já foi um forte, prisão e até palácio. Hoje os visitantes vão até lá para conferir as jóias da Coroa Britânica que, cá entre nós, que jóias!

Os corvos são os habitantes oficiais da Torre. A lenda remonta ao reinado de Charles II: “se os corvos deixarem o local, a monarquia pode cair”. É por este motivo que ainda é conservada uma pequena população desses pássaros.

Mind the Gap
Esta frase você vai ouvir toda vez que o trem do metrô fizer uma parada: cuidado com o vão entre o trem e a plataforma.

Andar de metrô é fácil. Um mapa na mão e um destino na cabeça é tudo o que você precisa para se locomover de um ponto a outro. E é isso aí, porque o sistema deste meio de transporte (chamado tube) é tão completo, que envolve praticamente a cidade inteira. Por este motivo, o ideal é comprar os passes diários ou semanais, o Travel Card, pois é possível entrar e sair quantas vezes quiser, tanto do ônibus quanto do metrô.

Além de se locomover como fazem os londrinos, você vai aprender algumas regras básicas. A primeira é: nunca pare na escada rolante do lado esquerdo. Há placas espalhadas ao longo de todas as escadas com os dizeres: Stand on the right. Isso porque o lado esquerdo deve ficar livre para os apressadinhos.

Outra regra é no momento de sair da estação, quando as escadas não são rolantes e os corredores, na maioria das vezes, quilométricos. Neste momento, a regra número dois é Keep Left (mantenha-se à esquerda), porque pela direita há pessoas na direção oposta (lembre-se que em Londres os motoristas dirigem do lado direito do carro e as mãos das ruas são opostas às nossas).

Regra número três: se quiser se sentir um londrino de verdade, carregue na bolsa algo para ler dentro do trem (homens e mulheres usam bolsas, seja do tipo tira-colo, seja do tipo mochila). Mesmo que pareça só disfarce, os passageiros estão sempre lendo, ora o jornal distribuído gratuitamente nas estações, ora palavras-cruzadas ou livros em geral (Harry Potter é uma verdadeira febre).

Aproveite, também, para reparar no comportamento das pessoas dentro dos vagões, onde empresários bem-sucedidos e mendigos, ingleses e estrangeiros convivem em harmonia.

Andar, andar, andar
Oxford Street é a maior rua de Londres, com dois quilômetros e meio de extensão. Lá está localizada a maioria das lojas da cidade: bom para comprar lembrancinhas para os amigos. Na mesma rua temos a Selfriges, uma loja gigante com todo o que você pode imaginar. Os preços, inclusive, são melhores do que os da famosa Harrods, que abriga em seus cinco andares as grifes mais famosas da Europa, principalmente a parte de joalheria e moda. A seção de gastronomia, então, é de babar. Mas com a libra a quase quatro reais, melhor mesmo é deixar para comer em casa.

A Regent Street, no entanto, é a responsável por atrair o glamour e os lançamentos da moda européia. Vale a pena conferir o que estará em alta na próxima estação. Descendo esta mesma rua, chega-se a Piccadilly Circus, onde está a Tower Records, uma das gigantes na venda de CDs.

Desce uma
Nove da noite é hora de ir ao pub. O que, sexta às 21h, na balada? Bom, para quem tem que estar de volta antes de virar abóbora, digo que já é tarde. Antes das 22h o pub já está no auge: cheio de gente bebendo, e muito.

No Waxy O’Conners, um pub irlandês perto da Leicester Square, peça um pint de Guiness ou de Fosters. Você não vai se arrepender, mesmo se a loira (ou a morena) não estiver estupidamente gelada, como costumamos ter por aqui, porque inglês bebe cerveja quente. Consumação mínima é coisa de mundo moderno. No Velho Mundo a cerveja é paga na hora: 2,70 libras por um pint (a medida deles, que equivale a 600 ml).

Outro bar para enlouquecer é o Walkabout. Com 27 casas espalhadas pela Inglaterra e País de Gales, o Walkabout conta com ambiente, comida, clima e atendimento tipicamente australianos. A intenção é divulgar a experiência australiana pela Europa e oferecer em seus telões o melhor do esporte.

A música ao vivo, no entanto, é o melhor da festa. “Are you ready to rock? Are you ready to roll”, pergunta o vocalista da banda, às oito da noite de domingo. Neste momento, os australianos, neozelandeses e brasileiros de plantão que lotam a unidade de Shepherds Bush vão à loucura.

Dia de feira
Sábado é dia de ir à feira. Sim, em Notting Hill a moda é vasculhar o mercado de pulgas de Portobello Road. As barraquinhas espalhadas ao longo de boa parte do bairro vendem de tudo o que é antiguidade. Aproveite para dar uma sapiada na The Travel Bookshop, a livraria que serviu de inspiração para o filme de Julia Roberts ("Um Lugar Chamado Notting Hill"). Ela está no número 13 da Blenheim Crescent, a meia quadra da Portobello Road. Os livros sobre viagens são os mais variados possíveis. Tem até um guia do Brasil. Pena que está desatualizado.

Para fazer compras, bom mesmo é em Camden Town, aos domingos. O mercado Camden Lock é cheio de barraquinhas e encontra-se de tudo, inclusive um ou outro exemplar de punk que ainda resta na Inglaterra. Se você quiser almoçar por lá, uma boa pedida são os cafés. Um sanduíche no pão ciabata com tomate, alface e frango empanado sai por cerca de 3,50 libras.

Outro mercado interessante é o Covent Garden. Trata-se de uma eclética mistura de cafés, restaurantes, lojas e entretenimento na rua. Muitos artistas começam a carreira ali, cantando e interpretando em troca de moedas e aplausos.

Fora de Londres
Depois de ter uma visão geral de Londres, de passear pelos principais pontos da cidade, como a Oxford Street de ponta a ponta, de provar um Fish’n chips (um dos principais pratos ingleses), é hora de conhecer Windsor. Chegar lá é fácil: basta comprar um ticket de trem diretamente em Waterloo (6,30 libras ida e volta). A viagem dura uma hora.

Bem perto da estação há o Castelo de Windsor, uma das residências oficiais da nobreza inglesa, desde o século 10. Foi lá, inclusive, que a rainha Elizabeth faleceu, em 30 de março, aos 101 anos.

Durante a visita, que custa 11,50 libras, é possível conhecer cada parte da residência, bem como a história daquele castelo, inclusive a de quando uma de suas dependências pegou fogo, nos anos 1990.

A cidade em si também vale a visita. Trata-se de uma vila tipicamente interiorana, que desperta a sensação de realmente estar na Inglaterra.

Hora da despedida
Uma pizza ou uma deliciosa massa no La Porchetta é tudo de bom. Neste restaurante italiano localizado em Angel come-se bem e por um preço razoável (uma pizza de margherita, por exemplo, sai por quatro libras, o mesmo que uma refeição com sanduíche, batata-frita e refrigerante no Burger King).

De lá para Greenwich. É no Greenwich Park que está o Royal Observatory Greenwich e também a linha imaginária que divide a Terra em duas partes.

Mas ainda não acabou: em Londres há musicais, como "Cats", que está em cartaz há vinte anos, palácios, castelos, museus, galerias, abadias, praças, parques, restaurantes. Programas para uma vida toda, para todas as idades e preferências.

Depois de falar muito sorry (os ingleses dizem isso para tudo, não apenas para pedir desculpas) e de encarar o cotidiano britânico dentro do vagão do metrô, quando me dei conta já estava tomando chá com leite.

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