quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Serra Gaúcha - Rio Grande do Sul

(Publicada em maio de 2003)

Enquanto os paulistanos desciam a serra para o litoral, resolvi subi-la, mas desta vez nada de Campos do Jordão. Segui em direção a BR 116, a temida “rodovia da morte”, e rumei para o sul do país. Quem não está acostumado com curvas, o caminho é realmente de enjoar. Porém, a iniciativa de encontrar o que há lá em cima da serra me fez encarar com muito entusiasmo os 982 quilômetros que separam a capital paulista de Caxias do Sul.

O ponto mais ao sul que havia ido, até então, era Curitiba e Ilha do Mel, no Paraná, ou seja, a cerca de 400 quilômetros daqui. E vale a pena. Principalmente depois de descobrir que a Serra Gaúcha é formada por cidades acolhedoras, que oferecem boa comida e hospitalidade de primeira.

Neste Brasil de contrastes, o Rio Grande do Sul é um dos lugares que mais carrega as heranças européias, principalmente em Gramado, Canela, Garibaldi e Bento Gonçalves. Colonizadas por alemães e italianos, as cidades da serra destacam-se por seus vinhos, salames e queijos. E ainda pode-se visitar lugares belíssimos, com construções características do início da colonização, destacando as igrejas, os sobrados coloniais e as casas em estilo enxaimel, aquela arquitetura cujo telhado é caído justamente para não reter a neve nos países europeus.

Caxias do Sul é uma das maiores cidades da região e é onde é realizada a Festa da Uva, um dos eventos que realmente mostra o desenvolvimento da cidade. As marcas da imigração, porém, não se restringem à economia, uma vez que a herança dos italianos está nos monumentos, no dialeto vêneto, nos restaurantes, na arquitetura, nas magníficas obras do pintor Aldo Locatelli, principalmente na Igreja de São Pelegrino, cujos afrescos foram pintados por ele mesmo.

Região das Hortênsias
Gramado, Canela e Nova Petrópolis são três das cidades que formam a Região das Hortênsias. Dos resquícios dos colonizadores, a gastronomia é muito forte, traço que se combina com a típica culinária gaúcha. Esta parte da Serra Gaúcha é a mais procurada pelos turistas, mas, infelizmente, no outono as flores desaparecem e todo o grande jardim perde o colorido. Mesmo assim, o passeio compensa e instiga o visitante a voltar ao local durante a primavera.

As hortênsias se difundiram, na verdade, a partir de Gramado, quando, na década de 1950, Oscar Knorr plantou uma grande quantidade dessas flores nos jardins de sua casa, hoje o Parque Knorr. Outros moradores aderiram à idéia, transformando a flor numa marca registrada da região e mais um atrativo para os turistas. As plantações se espalharam de tal forma que ultrapassaram as fronteiras do município, ganhando as estradas, até chegar às cidades mais próximas que aderiram à moda.

Os caminhos cercados por hortênsias constam entre os melhores roteiros turísticos do Brasil. Eventos importantes como o Festival de Cinema de Gramado e o Festival de Teatro de Canela atraem brasileiros e estrangeiros. Junto com o clima festivo, as cidades ainda oferecem prazeres gastronômicos, como o chocolate artesanal, as fondues, os cafés coloniais, os strudels, as massas caseiras...

Nova Petrópolis
O nome da cidade foi uma analogia à “Cidade Imperial de Petrópolis”, onde a corte passava os meses de verão. As belas paisagens naturais da colônia e sua localização logo levaram os imigrantes a se encantar pelo lugar. Com clima temperado, os visitantes podem conferir (com sorte) geadas e invernos muito frios.

Na Praça das Flores, o Labirinto Verde foi uma das atrações que a prefeitura da cidade elaborou para atrair cada vez mais visitantes. Trata-se de uma cerca viva de cipestres em forma de labirinto, cujo objetivo é alcançar o centro. A diversão, aliás, é garantida para adultos e crianças. No final, acabam se divertindo tanto os que encaram o desafio, como aqueles que apenas param para assistir às dificuldades alheias.

Na cidade também se encontra o Parque Aldeia do Imigrante, que cobra ingresso de R$ 2, onde pode ser conferido um movimento vivo da cultura alemã. Ao todo são mais de 10 hectares de área verde de espécies nativas para os visitantes apreciarem artesanato, belas malhas, saborosos quitutes e o “Biergarten” (Jardim da Cerveja).

Gramado
As flores nas janelas, os jardins, os lagos cuidadosamente planejados e a arquitetura em estilo bávaro fazem da cidade um cenário à parte no Rio Grande do Sul. Já na entrada, o Pórtico é um atrativo para as fotografias e muito conhecido como cartão-postal da cidade.

O Lago Negro é um dos pontos turísticos mais procurados. Circundado por hortênsias, azaléias, álamos e ciprestes, o lago oferece trilhas para uma agradável caminhada, além de uma infra-estrutura comercial, que proporciona maior comodidade ao visitante. Não é cobrado ingresso de entrada, mas quem quiser desfrutar de suas águas com uma volta de pedalinho são cobrados R$ 6 para duas pessoas por um período de vinte minutos.

O mundo em miniatura. Assim é o Míni-mundo, criado pela família Hoppner, em 1981, ao estilo Legoland, na Dinamarca. É possível conferir réplicas de castelos, ferrovias, moinhos, praças, estaleiros, torres, teleféricos, lagos, cascatas, casas típicas e igrejas, inclusive a igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, Minas Gerais, num mundo imaginário e criativo. Na fonte dos desejos, moedas do mundo inteiro já pousaram por ali em busca de um pedido. Para entrar, o visitante precisa desembolsar R$ 6.

O Palácio dos Festivais é a sede de exibição dos filmes participantes do Festival de Gramado - Cinema Latino e Brasileiro. No período do evento, o local recebe artistas consagrados dos mais distintos lugares do mundo e lança no mercado filmes de curta, média e longa-metragem, que concorrem ao Kikito, o cobiçado troféu que representa o Deus do Bom Humor, entregue aos destaques do Festival de Gramado.

Canela
Os pontos turísticos de Canela estão entre os cartões-postais mais conhecidos do Rio Grande do Sul. São raros os turistas que passam pela Serra Gaúcha e retornam às suas cidades sem levar consigo uma fotografia ou lembrança de lugares encantadores, como a Cascata do Caracol e a Igreja de Pedra. Muitos eventos importantes também acontecem todos os anos, como o Festival Internacional de Teatro, que reúne anualmente artistas do Brasil e do exterior.

No inverno, a cidade de influência italiana, alemã e portuguesa ganha ares ainda mais europeus. As baixas temperaturas e a neve convidam os visitantes ao aconchego das lareiras de restaurantes e hotéis. A contemplação dos visitantes só é quebrada pelas altas doses de adrenalina dos esportes radicais, cada vez mais praticados nas reservas e parques do município.

É no Parque do Caracol que está localizada a Cascata do Caracol, formada pelo arroio do mesmo nome. O leito do arroio forma o desenho de um caracol e despenca, em queda livre, por um penhasco de 131 metros de altura. Para entrar, o ingresso custa R$ 8, com direito à subida ao mirante, por meio de um elevador panorâmico com vista para a cascata. Se bem que nem seria necessária a subida até lá, uma vez que do próprio parque a vista para a cachoeira é compensadora, agregada ao barulho da água e ao vento, condições que não existem no mirante, já que ele é fechado por vidros.

Assim como em toda cidade, no Parque do Caracol há muitos Plátanos, uma árvore de cor amarelada, muito comum nos Estados Unidos e símbolo do Canadá.

Uma boa opção para comer em Canela e entrar no ritmo gaúcho é o Garfo & Bombacha, uma churrascaria com shows de peões e prendas que animam os visitantes com música típica e convida todos para a Dança do Pezinho.

Para as pessoas que querem conhecer um pouco sobre como funcionavam as máquinas a vapor, o Mundo a Vapor é uma boa opção. Trata-se de um parque temático sobre as máquinas a vapor do início do século. São dezenas de miniaturas delas trabalhando em várias unidades de produção: siderurgia, trem de laminação, olaria, granja de arroz irrigada, serraria e a mais nova atração: a fábrica de papel, que leva oito minutos para fabricar tiras do produto.

Uma boa atração também em Canela é a fábrica de chocolates Caracol, onde há o maior coelho de chocolate do mundo, que chegou a fazer parte do Guinness Book de 1998. Além dos chocolates, na Semana Santa não poderia deixar de visitar a Igreja de Pedra, localizada no centro da cidade.

A Igreja de Nossa Senhora de Lourdes é um prédio relativamente recente (sua construção foi iniciada em 1953), no estilo gótico inglês muito imponente, que chama atenção pelo fato de ser inteiramente de pedra, projetada pelo arquiteto Bernardo Sartori. Toda revestida em basalto, apresenta uma torre de 65 metros de altura, com um carrilhão de 12 sinos.

Visitar a casa construída no início do século pelo desbravador Pedro Franzen é voltar ao passado. No Castelinho há velhos utensílios, móveis antigos, paredes praticamente intactas, mesmo com o passar do tempo, que mostram como a construção é resultado de uma combinação de técnica, arte e conhecimento.

A história da casa - que hoje abriga um museu e casa de chá - começou em 1913. Grandes toras de pinheiros permaneceram seis meses mergulhadas em um arroio e outros seis secando a sombra. Depois, cortadas, serviram à construção da casa, projetada em forma de um pequeno castelo, com 18 ambientes. No primeiro pavimento não foram utilizados pregos ou parafusos para a montagem da estrutura de madeira, mas somente encaixes de precisão e pinos. Hoje, os turistas que passam diariamente pela casa podem testemunhar a solidez e a harmonia da construção. Podem também provar um dos mais famosos strudels (torta de maçã) da região.

Pequena Itália
Não por acaso há quem chame de Pequena Itália a região de colonização italiana do Rio Grande do Sul. O inesgotável repertório de exageros amáveis e reverências justificadas aos encantos da Itália pode ser encontrado também nas paisagens naturais intactas da região do vinho gaúcho, que inclui Garibaldi e Bento Gonçalves. Além da paisagem, os resquícios italianos aparecem com força nas casas, na agricultura, no hábito de fazer e beber vinho, na gastronomia e no idioma.

Em Bento Gonçalves, por exemplo, a produção artesanal de vinhos e outros derivados da uva era inicialmente realizada nas próprias casas dos agricultores. Embora com clima inadequadamente úmido, a cidade é uma das maiores em produção de vinhos no Brasil, pois os colonos persistiram nessa cultura. Isso porque essa era a única tecnologia agrícola dos imigrantes italianos, que sabiam como plantar a uva, colher e, por fim, elaborar o mais saboroso vinho.

Muitas vinícolas, aliás, podem ser visitadas. A Zaragosso é passada de pai para filho desde 1914 e a venda é apenas realizada diretamente no local, ou por envio sob encomenda. Já a cooperativa Aurora exporta seus vinhos e sucos de uva para países da Europa, América e Oceania.

Em Bento Gonçalves também se pode conhecer o Vale dos Vinhedos, onde localizam-se muitas vinícolas concentradas ao longo de uma estrada de 20 quilômetros. Além de visitar os vinhedos e ver de perto como se faz um bom vinho, pode-se comprar garrafas de safras especialmente boas e vinhos raros de encontrar. As cantinas menores também vendem suco de uva, geléias e grappa (ou graspa), um destilado de uva. Durante os dias frios, os habitantes da cidade costumam pingar algumas gotas da bebida no café para manter o corpo aquecido.

Depois de visitar as cidades da serra e provar uma boa comida regada a um excelente vinho, esteja certo de voltar para casa com boas lembranças e um bom vinho na mala!

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